Gláucia Lima
“Eu queria entender
o que leva uma pessoa a negar a possibilidade de salvar uma vida. Mais
informação, por favor!”
Ao ler este
questionamento em grupo de rede social, eu me detive a pensar e a lembrar
daquele dia em que fui desafiada (mais uma vez) na vida. Naqueles dias,
intermináveis 4 dias que faço referência como sendo meu calvário...
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mais 60% das famílias baianas não
permitem doação de órgãos
Foto: Reprodução / HC Unicamp
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Então, passei a responder.
Parecia até que o questionamento estava vindo diretamente a mim. Porém, ao
invés de perguntar ‘os por quês’ na vida, troquei por ‘pra quê’. E, assim,
escrevi:
Não ouso ‘julgar’
(no entanto ousei responder)... Mas, posso falar do que conheço: Estive com meu
filho por 4 dias em uma UTI, depois de baleado em uma tentativa de assalto.
Isso foi em 24 de janeiro/2015. Dia 28, ou seja, 4 dias depois, foi atestado ‘morte cerebral’...
Decisão
de doar não é tão fácil como se possa pensar. Muita coisa em xeque. Em nenhum
momento tive dúvidas quanto à doação. Sabia que era de sua vontade também
(sabia ou lembrei que ele havia declarado na carteira da OAB). Enquanto
vemos nosso filho respirar e seu coração bater, resta-nos esperança... Talvez à
espera de um ‘Milagre’.
Voltar pra casa àquele dia, mesmo sabendo que aquela
decisão salvaria muitas vidas, foi avassalador...
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Foto: Gláucia Lima e Diecks Pereira (vestindo camisas do InsTI)
ladeados por equipe de jornalismo da TV local - Fortaleza/CE
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Uma TV local
(Fortaleza/CE) gravou uma série de matérias sobre o tema. Tivemos participação
no último episódio. Eu e um dos receptores do rim do meu filho, Diecks, que hoje é
voluntário no InsTI, Instituto que leva seu nome.
Poderia falar e/ou
escrever por horas, é doloroso demais... Porém a vida nos empurra a seguir,
mesmo sem vontade...
Espero que o que
falei possa, de alguma forma, ser-lhes útil.
Assim, o link pra quem interesse mais informação acerca da matéria que me
refiro (a partir do min 4 até o final), Abraços solidários!
InsTI participou: Ato
de Doação de Tonny Ítalo a Diecks Pereira, um de seus receptores, hoje voluntário
no Instituto Tonny Ítalo – Ato de Amor!
Confira matéria no link
☼¸.★ Q tenhamos uma nova Cultura de Convivência no Planeta. ☼¸.☆
Unidade Dialítica da Policlínica do Rim
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Unidade Dialítica da
Policlínica do Rim Conversando com Transplantado |
Como nada é por
acaso... Imediatamente após a matéria ir ao ar, recebi do Diecks um convite
para participar com ele do evento: Conversando
com o Transplantado 2017, na unidade dialítica da Policlínica do Rim –
Fortaleza/CE.
Como também não
acredito em coincidências, sim em ‘sincronicidade’, aceitei o desafio.
Ainda não havia
participado de algo tão emocionante depois que abandonei a cama, que dei as
costas para a depressão. Diferente das matérias que costumo gravar pra Rádio
e/ou TV, cheia de alto astral e alegria, lá foi diferente. Uma emoção invadiu
meu peito, tomando conta de mim. Era um misto de sensações: dever cumprido e compaixão por aquelas
pessoas que seguem seu calvário na esperança de um ‘sim’. Sim que dá vida, sim
que enobrece, sim de caridade, amor.
Pra lá fomos levados por Rafael Barreira, voluntário do InsTI e
recepcionados, calorosamente, por todas as pessoas que lá trabalham, em
particular pela Assistente Social Emília Menezes e a Psicóloga Naiane Andrade.
Ali, pela primeira vez, senti
profundamente o amor daquela atitude. Pela primeira vez senti o amor colocado
naquele ‘sim’. Externei minha emoção (com um pouco de ‘constrangimento’, afinal
estava ali pra levar coragem, força e estímulo a pacientes) e o meu profundo
agradecimento. Agradeci àquelas pessoas, jovens, adultas, idosas, homens, mulheres... Agradeci
elas terem me dado a certeza de que aquele sim, foi a mais acertada decisão. Ali
comprovei que Doação é Amor em Ação.
Sim, eu vi o
milagre. E, o nome dele é Amor!
Corredor da Vitória
Após
participar com Deicks do evento: Conversando com o Transplantado,
na unidade dialítica da Policlínica do Rim – onde foram captadas imagens dos
transplantados e doadores, criou-se então o Corredor da Vitória.
Incentivo e estímulo às pessoas envolvidas nesse processo. No caso, os Rins.
Confiram em vídeo.
“Processo de Doação-transplante” ou “Novo Ciclo Vital”. *
O diagnóstico de morte encefálica é estabelecido por meio de exames
clínicos e provas complementares sempre por dois médicos que não podem
participar de equipes cirúrgicas que fazem a remoção dos órgãos ou equipes
transplantadoras. Segundo a legislação brasileira (Lei 9.434/97 e Resolução do
Conselho Federal de Medicina 1.480/97) existem critérios claros que devem ser
encontrados na investigação da morte encefálica. Um fato importante é que o
diagnóstico segue um protocolo e a família tem o direito de ser informada a
partir da suspeita deste diagnóstico.
O diagnóstico, SEMPRE, é realizado por dois médicos não participantes
das equipes de remoção de órgãos ou transplante. O exame clínico do paciente
com suspeita de morte encefálica deve considerar:
2. Ausência de sinais que mostram o funcionamento do tronco cerebral:
são chamados de reflexos de tronco cerebral. Um paciente com suspeita de morte
encefálica não conseguirá, ao ser examinado:
a. Contrair as pupilas ao incidir um feixe de luz (reflexo fotomotor);
b. Não piscar ao se tocar os olhos (reflexo córneo palpebral);
c. Não movimentar o
olhar quando o médico movimenta a cabeça do paciente (reflexo óculo cefálico);
d. Não movimentar
os olhos (quando ocorrer colocação de soro frio nos ouvidos);
e. Não tossir
quando estimulado para isso;
f. Não conseguir
respirar espontaneamente.
O paciente em morte encefálica pode, neste momento, ser chamado de
potencial doador de órgãos. A família deve ser esclarecida sobre todos os
detalhes do protocolo, inclusive da sua abertura.
É direito do familiar do morto ser acolhido neste difícil e triste
contexto, bem como ser informado da existência de dois caminhos: 1) O Caminho
da doação de órgãos e tecidos ou 2) A devolução imediata do corpo para os
trâmites funerários sem que haja a doação.
"Doação de órgãos antes de
tudo, é um direito da pessoa e da família. Socialmente, a doação de órgãos é
benéfica não apenas para quem receberá os órgãos doados, mas para toda a
sociedade que utiliza os serviços da Saúde. Para muitos pacientes que esperam
por um transplante esta é a única alternativa possível para seguirem vivos. Por
outro lado, é importante dizer que as famílias e as pessoas tem o direito de
não serem doadoras. A decisão sempre deve ser respeitada."
PERGUNTAS QUE FAZEMOS COM FREQÜÊNCIA.*
1. O diagnóstico de morte encefálica pode estar errado?
O diagnóstico de morte encefálica deve
seguir um protocolo estabelecido pelo Conselho Federal de Medicina, vigente
desde 1997 no Brasil.
O cumprimento de todos os exames clínicos e complementares, como no caso de um
Eletroencefalograma, garantem que o diagnóstico esteja correto.
Portanto, seguidos todos os passos para o diagnóstico, NÃO há possibilidade de erro.
2. Existe alguma lei que determine como o diagnóstico de morte
encefálica deve ser feito?
A Lei Número 9.434 de 1997 determinou ao
Conselho Federal de Medicina estabelecer os critérios para o diagnóstico de
morte encefálica.
Neste protocolo, sempre há a participação de dois médicos que examinam o
paciente e ocorre a realização de um exame complementar, como a arteriografia,
o ultrassom Doppler transcraniano ou o eletroencefalograma.
3. Quem decide pela doação de órgãos?
4. A doação de órgãos e tecidos só ocorre com a autorização de um
parente até segundo grau (linha reta ou colateral) ou do cônjuge. Fora destas
situações, somente com autorização judicial. Pessoas desconhecidas (sem
identificação) não podem ser doadoras. Veja a ilustração seguinte:
5. Se parte da minha família aceita a doação e outra parte não aceita: o
que fazer?
Quando há conflito familiar, onde parte
da família deseja a doação e outra não, legalmente o parente mais próximo é
quem tem o poder da decisão. No entanto, uma estratégia adequada é buscar com
os familiares qual o que pensava a pessoa em vida e decidir apoiando seu
desejo. A doação não pode ser um problema para a família: ela também tem por
objetivo colaborar na diminuição do sofrimento dos familiares, que sempre terão
esse ato como algo consolador.
6. Se aceitarmos a doação de órgãos, quanto tempo isso vai demorar?
Podemos entender que a doação de órgãos
se inicia quando a família é consultada e assina um termo de doação no momento
da entrevista. A partir daí, em média, todo o processo dura cerca de 12
horas.
Quando uma família consente a doação, uma série de etapas precisam ser
cumpridas até a devolução do corpo, como por exemplo: 1) A validação do doador
(exames de sangue, RX etc); 2) A informação à Central de Transplantes que
identificará os receptores para os órgãos doados; 3) A retirada dos órgãos no Centro
Cirúrgico e finalmente, 4) A devolução de forma condigna do corpo do doador aos
familiares.
7. Que órgãos e tecidos podem ser doados de uma pessoa morta?
Podem ser doados os órgãos: coração,
pulmões, rins, fígado e pâncreas.
Quanto aos tecidos: córneas, fragmentos ósseos e tendões, alguns vasos
sanguíneos e fragmentos de pele.
8. O corpo do doador ficará deformado?
Não!
A retirada dos órgãos e tecidos é uma cirurgia que tem por objetivo retirar com
cuidado, técnica e respeito somente os órgãos e tecidos doados. São realizados
todos os procedimentos como em qualquer outra cirurgia. O corpo do doador, por
Lei, deve ser reconstituído de forma condigna. Ainda, é de responsabilidade do
profissional da saúde responsável pela doação, devolver o corpo aos familiares.
Assim, mesmo que ocorra a retirada de vários órgãos e tecidos, o corpo poderá
ser velado e enterrado sem a necessidade de procedimentos especiais.
9. Terminada a retirada dos órgãos, o corpo terá que sofrer algum
tratamento especial?
A reconstituição do corpo é um ato
médico e nenhum procedimento especial necessita ser realizado. Não há
necessidade de caixão lacrado por causa da doação.
10. A doação de órgãos garante alguma ajuda para o funeral?
Alguns municípios no Brasil tem auxílio
funeral ao doador de órgãos e tecidos, é o que acontece no município de São
Paulo. Quando a morte é declarada no município de São Paulo, por exemplo, é
fornecido um documento ao familiar para ser apresentado no Serviço Funerário
Municipal.
11. Os familiares do doador de órgãos e tecidos podem conhecer os
receptores?
Embora não exista nenhuma lei que proíba
esse ato, é altamente recomendável que os familiares do doador não conheçam os
receptores. O anonimato deve ser preservado para segurança de todo o processo.
O profissional da Saúde que entrevista a família não pode advogar a favor do
conhecimento de terceiros e garantir que isso irá ocorrer no futuro.
12. Se a família é contrária à doação. O que vai acontecer com o doador?
A data e o horário da morte da pessoa (óbito) corresponde ao último
exame realizado dentro do Protocolo de Morte Encefálica (Resolução CFM
1.480/97). A partir deste momento a pessoa é declarada morta.
Se os familiares são contrários à doação, o corpo deve ser imediatamente entregue
para os trâmites funerários. Existe uma Resolução do Conselho Federal de
Medicina (Resolução 1.826) que informa que é ética e legal a suspensão de
qualquer suporte de manutenção do potencial doador (Respirador mecânico, soros,
remédios etc) daquelas pessoas mortas cuja as famílias compreenderam o
diagnóstico da morte encefálica.
Assim, a família tem direito de receber o corpo e o médico a obrigação de
devolvê-lo para que o funeral possa acontecer.
Se o profissional da saúde não devolver o corpo nesta situação específica,
poderá ser notificado por obstrução de funeral.
Diante da situação de um parente morto que não será doador de órgãos por
qualquer motivo que impossibilite esse ato, tanto os familiares quanto os
profissionais da saúde precisam entender que nada mais pode ou deve ser feito.
O morto deve ter respeitado o direito à um funeral digno e respeitando a
cultura e tradições de cada família, religião e local.
Fonte:
ESCLARECENDO A SOCIEDADE/ ISSO É IMPORTANTE PARA TODOS NÓS!
ESCLARECENDO A DOAÇÃO DE ÓRGÃOS.