“Não há razão para haver tanta miséria. Precisamos construir novos caminhos” Papa Francisco
"Temos que viver num mundo de mais tolerância."
1) Pôr a economia a serviço dos povos; 2) Construir a paz e a justiça;
3) Defender a Mãe Terra.
De 26 a 28 de março (2020), Assis, a cidade italiana
de São Francisco, receberá mais de 2 mil economistas e empreendedores de 115
países, todos com menos de 35 anos, para participar do encontro “A economia de
Francisco”, evento convocado pelo papa. O Brasil se fará representar por 30
participantes.
A
agenda prevê debates sobre trabalho e cuidado; gestão e dom; finança e
humanidade; agricultura e justiça; energia e pobreza; lucro e vocação;
políticas para a felicidade; desigualdade social; negócios e paz; economia e
mulher; empresas em transição; vida e estilos de vida; e economia solidária.
“Não
há razão para haver tanta miséria. Precisamos construir novos caminhos”,
declarou Francisco ao convocar o evento. Ele propõe uma economia “que faz viver
e não mata, inclui e não exclui, humaniza e não desumaniza, cuida da Criação e
não a depreda.” E afirma a necessidade de “corrigir os modelos de crescimento
incapazes de garantir o respeito ao meio ambiente, o acolhimento da vida, o
cuidado da família, a equidade social, a dignidade dos trabalhadores e os
direitos das futuras gerações.”
Para assessorar o encontro, o papa convidou Jeffrey Sachs, Joseph Stiglitz,
Amartya Sen, Vandana Shiva, Muhammad Yunus e Kate Raworth.
Os temas da
desigualdade social e da devastação ambiental ocuparão o centro das atenções.
Segundo o economista Ladislau Dowbor, no atual estágio do capitalismo “não há
nenhuma razão para haver miséria no planeta. Se dividirmos os 85 trilhões de
dólares que temos de PIB mundial pela população, isso equivale a 15
mil reais por mês, por família de quatro pessoas. Isso é amplamente suficiente
para todos viverem de maneira digna e confortável.”
Hoje, segundo
a FAO, 851 milhões de pessoas passam fome. A população mundial é de 7,6 bilhões
de pessoas, e o planeta produz alimentos suficientes para 11 bilhões de bocas.
Portanto, não há falta de recursos, há falta de justiça. Como não há falta de
dinheiro, e sim de partilha. Os paraísos fiscais, verdadeiras cavernas de Ali
Babás, guardam 20 trilhões de dólares, 200 vezes mais do que os US$ 100 bilhões
que a Conferência de Paris estabeleceu para tentar deter a desastre
ambiental.
No
neoliberalismo, o capitalismo adquiriu nova face. Deslocou-se da produção para
a especulação. As fabulosas fortunas estocadas nos bancos favorecem
prioritariamente os especuladores, e não os produtores. Em suas obras, Piketty
demonstra que produzir gera empregos e resulta no crescimento de bens e
serviços na ordem de 2% a 2,5% ao ano. Porém, quem aplica no mercado financeiro
obtém um rendimento de 7% a 9% ao ano.
O
agravante é que o capital improdutivo quase não paga imposto. E a desigualdade
de renda tende a crescer, pois, hoje, 1% da população mundial detém em mãos
mais riqueza que os 99% restantes. A soma das riquezas de apenas 26 famílias
supera a soma da riqueza de 3,8 bilhões de pessoas, metade da população
mundial. E, no Brasil, apenas seis famílias acumulam mais riqueza do que 105
milhões de brasileiros – quase metade de nossa população – que se encontram na
base da pirâmide social.
Segundo a revista Forbes, 206 bilionários brasileiros aumentaram
suas fortunas em 230 bilhões de reais em 2019, enquanto a economia ficou
praticamente estagnada. Enquanto isso, aos mais pobres cabem os R$ 30 bilhões
do programa Bolsa Família.
Portanto, como assinala Dowbor, não é o Bolsa Família e a aposentadoria dos
velhinhos que prejudicam a economia, e sim a acumulação de riquezas em mãos de
grandes grupos privados que não produzem, são meros especuladores
financeiros. Essas famílias tinham uma fortuna, em 2012, de R$ 346 bilhões. Em
2019, subiu para 1 trilhão e 206 bilhões de reais. Como em nosso país lucros e
dividendos são isentos de tributação, esses bilionários não pagam impostos.
O objetivo do papa Francisco é que vigore no mundo
uma economia socialmente justa, economicamente viável, ambientalmente
sustentável e eticamente responsável.
Papa Francisco, defende todos os povos, ignorando preconceitos.
O Papa tem uma opção pelos marginalizados, pelos
excluídos", diz Frei Betto e que Papa Francisco é
ʹmaior estadista do mundoʹ: ʹContrapõe o
imbecil do Trumpʹ (presidente dos EUA)
A intolerância religiosa é "um
fenômeno histórico", lamentou o Frei Betto em entrevista à Rádio
Metrópole, na manhã desta sexta-feira (19/01/2018). Ele participa de um encontro,
intitulado “A Luta Contra a Intolerância Religiosa e a Arte da Convivência
entre os Diferentes”, no próximo domingo (21), no Teatro Castro Alves, em
Salvador.
Ele criticou as pessoas que
"tentam demonizar" religiões como o candomblé. "Jesus fez o bem
sem olhar a quem. Uma pessoa discriminar as outras por praticar outra fé é um
crime. Nem sempre a pessoa, a raça, uma religião, abraça seus valores. As vezes
elas usam essa religião para oprimir e isso não faz sentido", declarou.
"Temos que viver num mundo de
mais tolerância. Na família existem pessoas com pensamentos diferentes para que
encontremos um mundo de paz. Esse mundo não é aquele que eu vou impor a minha
fé", defendeu.
Na ocasião, ele citou a
representatividade do Papa Francisco, que defende todos os povos, ignorando
preconceitos. "Hoje o Papa Francisco é o maior estadista do mundo, fazendo
contraponto com esse imbecil do Donald Trump [presidente dos Estados Unidos]. O
papa tem uma opção pelos marginalizados, pelos excluídos", afirmou.
*Frei Betto é escritor, autor de “Por uma educação
crítica e participativa” (Rocco), de “O que a vida me ensinou” (Saraiva), entre
outros livros.
“a corrupção, a soberba, o exibicionismo dos dirigentes aumentam a descrença coletiva, a sensação de desamparo e retroalimenta o mecanismo do medo que sustenta esse sistema iníquo.”
O papa Francisco encerrou, no último
dia 5 de novembro (2016), no Vaticano, o III Encontro Mundial de Movimentos Populares,
que reuniu mais de 200 representantes de 60 países. “Neste encontro expressamos
a mesma sede de justiça e o mesmo clamor: terra, teto e trabalho para todos”, frisou
o pontífice.
Francisco recordou que, por ocasião
de sua visita à Bolívia (julho de 2015), “falamos da necessidade de uma mudança
para que a vida seja digna, uma mudança de estruturas; também de como vocês, os
movimentos populares, são semeadores de mudança, promotores de um processo no
qual confluem milhões de grandes e pequenas ações, encadeadas criativamente,
como em uma poesia. Por isso os qualifiquei de ‘poetas sociais’. E apontamos
algumas tarefas imprescindíveis rumo a uma alternativa humana frente à
globalização da indiferença: 1) Pôr a economia a serviço dos povos; 2)
Construir a paz e a justiça; 3) Defender a Mãe Terra.”
Francisco ressaltou que “o
colonialismo ideológico globalizante procura impor receitas supraculturais que
não respeitam a identidade dos povos. Vocês assumem outro caminho que é, ao
mesmo tempo, local e universal. Um caminho que me recorda Jesus ao pedir que a
multidão se organizasse em grupos de cinquenta para repartir o pão.”
O papa enfatizou o que ele entende
por terrorismo: “Quem então governa? O dinheiro. Como governa? Com a chibata do
medo, da iniquidade, da violência econômica, social, cultural e militar, que
engendra mais e mais violência numa espiral que parece não ter fim. (…) Há um
terrorismo de base que emana do controle global do dinheiro sobre a Terra e
atenta contra toda a humanidade. Desse terrorismo básico se alimentam os
terrorismos derivados, como o narcoterrorismo, o terrorismo de Estado, e o que
equivocadamente alguns chamam de terrorismo étnico ou religioso. Ora, nenhum
povo, nenhuma religião é terrorista. Sim, há por toda parte pequenos grupos
fundamentalistas. Mas o terrorismo começa quando se descarta a maravilha da
Criação, o homem e a mulher, e se coloca no lugar o dinheiro.”
Sobre a tendência global de se abrir
mão da liberdade em troca de segurança, Francisco acentuou que “o medo, além de
ser um bom negócio para os mercadores de armas e da morte, nos debilita,
desequilibra, destrói nossas defesas psicológicas e espirituais, nos anestesia
frente ao sofrimento alheio e, por fim, nos torna cruéis.”(…) “Por isso Jesus
nos disse: ‘Não tenham medo’ (Mateus 14, 27), pois a misericórdia é o
melhor antídoto contra o medo. É muito melhor que os antidepressivos e os
ansiolíticos.”
Ao abordar o desemprego, o papa valorizou
as iniciativas populares, assinalando que “quando vocês, os pobres organizados,
inventam seu próprio trabalho, criam uma cooperativa, recuperam uma fábrica
falida, reciclam o material descartado pela sociedade de consumo, enfrentam as
inclemências do tempo para vender em uma praça, exigem um pedaço de terra para
cultivar e alimentar os famintos, quando fazem isso imitam Jesus, porque
procuram sanar, ainda que precariamente, esta atrofia do sistema socioeconômico
imperante que é o desemprego.”
Sobre o drama dos refugiados que
buscam a Europa, indagou o pontífice: “O que acontece no mundo de hoje que,
quando ocorre a quebra de um banco, imediatamente aparecem somas escandalosas
para salvá-lo, mas quando se produz essa bancarrota da humanidade não há quase
nem a milésima parte para salvar esses irmãos que tanto sofrem? E assim o
Mediterrâneo se converteu em um cemitério, e não apenas o Mediterrâneo… tantos
cemitérios juntos aos muros manchados de sangue inocente!”
Ao final de sua saudação aos líderes
dos movimentos populares, Francisco alertou que “a corrupção, a soberba, o
exibicionismo dos dirigentes aumentam a descrença coletiva, a sensação de
desamparo e retroalimenta o mecanismo do medo que sustenta esse sistema
iníquo.”
Frei Betto, Leonardo Boff e Mario Sergio
Cortella
_Fontes diversas.
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