sábado, 15 de setembro de 2012

Trairi, o rio das traíras

 Lucas Jr.*
A história de Trairi, denominação de origem Tupuia-Tupi, onde viviam índios anacés e tremembés, confunde-se com a jornada de Martim Soares Moreno, o fundador do Ceará, nas terras de José de Alencar.  
CAMPOSCARMINHA  (*)

Localizado no nordeste do Estado, a 118 km de Fortaleza (CE), Trairi carrega as lembranças das lutas entre índios, portugueses e franceses, remontando ao início da colonização cearense, a partir da famosa expedição do açoriano Pero Coelho, em 1603. Entre soldados, silvícolas e a própria família de Coelho, estava o jovem Soares Moreno, sobrinho

do sargento-mor Diogo de Campos, vindo de batalhas vitoriosas no Rio Grande do Norte e notável conhecedor dos dialetos indígenas.


A história de Trairi, denominação de origem Tupuia-Tupi, onde viviam índios anacés e tremembés, confunde-se com a jornada de Martim Soares Moreno, o fundador do Ceará, nas terras de José de Alencar. 

Capela de Guageru reformada em pagamento à promessa de Maria Furtado de Mendonça (*)
Passando pelos arredores de Icapuí (CE), o destemido português conheceu o líder potiguara Jacaúna, com quem conquistou a costa cearense, fundando Fortaleza, prendendo e expulsando franceses e holandeses. Mas, devido às contrariedades das correntezas marítimas, seu maior desafio foi descobrir uma rota rumo ao Maranhão, este dominado pela França. A solução seria subir a Serra de Ibiapaba, na divisa com o Piauí. Com Pero Coelho, usou o Rio Trairi – ou o Rio Mundaú, ambos dentro do município, para alcançar a Serra de Uruburetama, nos seus nascedouros, e em seguida os rios Aracatiaçu e Acaraú até as proximidades da almejada serra, numa série de batalhas contra tribos guerreiras dos sertões cearenses.

Coqueiral, velas e barcos embelezam a paisagem da praia de Mundaú (*)
Em seu famoso romance Iracema, fictício segundo a crítica literária, José de Alencar narra a paixão de Moreno por uma índia tabajara de Ibiapaba, Iracema, com quem fugiu para o litoral, onde viveu na comunidade de Jacaúna. Segundo a historiadora trairiense Maria Pia de Sales, que teve contatos com descendentes de primitivos da região, o fato teria sido verídico em Trairi, na época Parazinho, que mais tarde passou a chamar-se Alto Alegre, hoje Paracuru, município vizinho ao qual era incorporado.

Na concepção de Maria Pia, os índios locais, mansos, receberam os irmãos de Jacaúna, confundindo a pronúncia “potiguara”, prevalecendo a denominação “pitiguara”, conhecidos então como os “índios de Trairi” a despeito dos historiadores cearenses, que reforçam apenas os tremembés e anacés.
Pier e calçadão à margem da barra do rio Mundaú são atrações turísticas (*)
Mas foi Tristão de Alencar Araripe, em

História da Província do Ceará (2a edição, Insituto do Ceará, 1958), quem colocou Trairi no ápice da história do Estado.

Nas muitas barracas, a culinária cearense é uma das opções (*)
Segundo ele, teria sido Américo Vespúcio o primeiro navegador a avistar as terras cearenses, em 18 de agosto de 1501, quando fazia viagem para a Coroa Portuguesa após a chegada de Cabral. Seu povoamento pelo homem branco iniciou-se no Século XVIII a partir de concessões de sesmarias, destacando-se João Verônica, que além de praticar agricultura e pecuária, foi notável mestre de obras, ajudando a erguer as primeiras casas da vila nas proximidades do Rio Trairi. Com ajuda de parentes e de outros, como Xavier de Sousa e de Antonio Barroso de Souza, ergueu a capela de Nossa Senhora dos Remédios. Porém, a história mudou após a chegada de uma mulher.
Durante a viagem que partiu da Europa, uma tempestade abateu sobre o barco de Maria Furtado de Mendonça, uma rica portuguesa devota de Nossa Senhora do Livramento. Após jogar ao mar todos os bens transportados na embarcação e prestes a naufragar, ela se ajoelhou e rezou, prometendo construir uma igreja em homenagem à santa, caso sobrevivesse. Acabou encalhando na Praia de Guageru. Sem noção de onde se encontrava, a tripulação a carregou dunas a dentro em busca de civilização. Até que encontrou os primeiros casebres na vila de Barrinha e, enfim, Trairi a dois quilômetros.
Guageru ainda mantém a tradição da pesca artesanal em currais (*)
Recebeu ajuda da comunidade e combinou de retornar com recursos e cumprir o juramento. Foi o que fez. Não só reformou a capela como deixou riquezas em sua homenagem e comprou terrenos para criação bovina e respectiva renda para a santa. Adquiriu ainda as terras que ficaram conhecidas como Córrego dos Furtados, onde até hoje seus descendentes vivem, mantendo a tradição do culto à Nossa Senhora do Livramento, que chegou a ser a mais querida por toda a microrregião de Itapipoca. O novenário inicia-se nos últimos dias de dezembro, culminando com a concorrida procissão de primeiro de janeiro.
O acesso ao município é pela CE 085, conhecida como estruturante. Por possuir um dos maiores índices pluviométricos do Estado e vasta vegetação, Trairi, segundo município em operações na Agência de Itapipoca (CE), destaca-se como grande produtor de milho, feijão, caju, mandioca
e coco, indústrias de beneficiamentos e potencial turístico.
(*) CAMPOSCARMINHA

As praias de Mundaú e Flexeiras contam com infraestrutura suficiente que fez atrair o setor hoteleiro, daí a valorização imobiliária, incluindo as praias de Emboaca e Guageru, esta considerada a melhor do mundo para a prática de kitesurf. Na sede, destacam-se o coqueiral, a robustez do Rio Trairi e a Lagoa do Criancó, entre vegetação e dunas. Já na divisa com o município de Paraipaba (CE), deslizando pelos morros, a lagoa artificial das Almércegas e suas águas cristalinas propiciam lazer às famílias.

Hotéis em Flexeiras oferecem bom serviço hoteleiro (*) CAMPOSCARMINHA
Assim é Trairi, Rio das Traíras, paraíso que tanto orgulha seu povo. É um convite a quem tem bom gosto e a certeza de que encontrará a paz e a recepção dessa gente que traz no sangue a pureza da simplicidade.


*Joaquim Lucas Júnior
   lucasjunior@bnb.gov.br



o artigo de Lucas Jr., Trairi, o rio das traíras foi publicado pela Revista: Conterrâneos (do ambiente de Comunicação Social do BNB) edição nº26.



(*) Imagens: CAMPOSCARMINHA



quarta-feira, 12 de setembro de 2012

JORGE AMADO & JOSÉ SARAMAGO - Imagens Raras e Versos de Saramago

O que dá o verdadeiro sentido ao encontro é a busca,
e é preciso andar muito para se alcançar o que está perto.❞ 




“Dentro de nós há uma coisa que não tem nome,
essa coisa é o que somos.” 

José Saramago
“Não tenhamos pressa,
mas não percamos tempo.”
“Se tens um coração de ferro, bom proveito. 
O meu, fizeram-no de carne, e sangra todo dia.”

“Todos sabemos que cada dia que nasce é o primeiro para uns e será o último para outros e que, para a maioria, é só um dia mais.”

“De que adianta falar de motivos, às vezes basta um só, às vezes nem juntando todos.”

"Dirão, em som, as coisas que, calados, no silêncio dos olhos confessamos?"

“O que as vitórias têm de mau é que não são definitivas. O que as derrotas têm de bom é que também não são definitivas.”

“Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara.”.

“Não sou um ateu total, todos os dias tento encontrar um sinal de Deus, mas infelizmente não o encontro.”

“Sempre chega a hora em que descobrimos que sabíamos muito mais do que antes julgávamos.”

“Para temperamentos nostálgicos, em geral quebradiços, pouco flexíveis, viver sozinho é um duríssimo castigo.”

“Mesmo que a rota da minha vida me conduza a uma estrela, nem por isso fui dispensado de percorrer os caminhos do mundo.”

“Cada dia traz sua alegria e sua pena, e também sua lição proveitosa.”

“Fisicamente, habitamos um espaço, mas, sentimentalmente, somos habitados por uma memória.”

"A única maneira de liquidar o dragão é cortar-lhe a cabeça, aparar-lhe as unhas não serve de nada."

"O difícil não é viver com as pessoas, o difícil é compreendê-las".

“Nada é para sempre, dizemos, mas há momentos que parecem ficar suspensos, pairando sobre o fluir inexorável do tempo.”
”Gostar é provavelmente a melhor maneira de ter, ter deve ser a pior maneira de gostar.”

“Os bons e os maus resultados dos nossos ditos e obras vão-se distribuindo, supõe-se que de uma maneira bastante uniforme e equilibrada, por todos os dias do futuro, incluindo aqueles, infindáveis, em que já cá não estaremos para poder comprová-lo, para congratularmo-nos ou para pedir perdão, aliás, há quem diga que é isto a imortalidade de que tanto se fala.”

“O espelho e os sonhos são coisas semelhantes, é como a imagem do homem diante de si próprio.”

A solução dos problemas humanos terá que contar com a literatura, a música, a pintura, enfim com as artes.
O homem necessita de beleza como necessita de pão e de liberdade. As artes existirão enquanto o homem existir sobre a face da terra. A literatura será sempre uma arma do homem em sua caminhada pela terra, em sua busca de felicidade...
  
Jorge Amado



segunda-feira, 10 de setembro de 2012

AÍRTON MONTE - 1949/2012



Confiai nos sonhos, pois neles está a porta para a eternidade.
                     Khalil Gibran
 Airton Monte, o médico psiquiatra, o cronista cearense. Uma vez perguntado o porquê de escrever? E a resposta vem, como que por um momento revelado em seus textos com temas que recaem sobre o cotidiano e o universo psíquico. Para obter conhecimento; por Prazer; pela emoção. Escrever “dá conhecimento e um certo controle sobre o mundo, que todos buscamos” diz Airton. Por prazer, pois crê que escrever é um “dom natural”,  parece crer piamente naquilo que alguns chamam de “inspiração”, na visita das musas. Algo o levou a gostar das palavras. Talvez pela leitura que a mãe fazia dos poetas parnasianos que relata o cronista, “parecia música”.  O hábito do avô de ler-lhe histórias, como a que acontece pela primeira, quando leu o livro de Monteiro Lobato.

Lamentamos profundamente informar o falecimento de Aírton Monte (1949), Médico Psiquiatra, Escritor Cronista (no Jornal O Povo)...
hoje, 10 de setembro de 2012.

“Vós conheceis o segredo da morte.
Mas como o encontrareis a menos que o procureis no âmago do coração?
O mocho cujos olhos noturnos são cegos para a claridade, não pode desvendar o mistério da luz.
Se quereis verdadeiramente conhecer o espírito da morte, abri o vosso coração até ao corpo da vida.
Pois vida e morte são uma só, tal como o são o rio e o mar.
Na profundeza dos vossos desejos e esperanças está a consciência silenciosa do além;
E tal como as sementes que sonham sob a neve, também o vosso coração sonha com o desabrochar.
Confiai nos sonhos, pois neles está a porta para a eternidade.
O vosso medo da morte não é mais do que o temor do pastor quando se vê perante o rei que ergue a sua mão para honrá-lo.
E sob a sua tremura, não está feliz o pastor, por trazer em si a insígnia do rei?
E, no entanto, não está mais consciente do seu tremor?
Pois o que é morrer senão ficar nu ao vento e fundir-se com o sol?
E o que é deixar de respirar senão libertar a respiração das suas inquietações a fim dela poder elevar-se e expandir-se até Deus?
Só quando beberdes do rio do silêncio sereis capazes de cantar.
E quando chegardes ao cimo da montanha, podereis então começar a subir.
E quando a terra reclamar o vosso corpo, então sereis verdadeiramente capazes de dançar.”
Gibran Khalil Gibran
Até a volta. Que haja reencontro...

"As palavras, acredito piamente, ainda dizem mais ao coração do que os punhos" ou "se errar é humano, acertar é desumano?" Aírton Monte ¸.
no link que segue, Uma conversa franca e bem humorada com Airton Monte, cronista de uma Fortaleza boêmia, solidária e fraterna que propõe o hedonismo e o anarquismo educado como utopia para a humanidade. Claudio Ribeiro, Demitri Túlio, Felipe Araújo e Luiz Henrique Campos
da Redação, 08/01/2007:
http://www.jornaldepoesia.jor.br/airtonmonte3.html

Luciana Linhares*
Desperta emoções escrever, quando comparando com as que tivera durante sua vida, três grandes sentimentos admiráveis que se igualam como sendo as maiores em toda a sua existência de escritor: a primeira quando saiu seu primeiro livro, a segunda  atribui à importância que sua mulher possuí e logo em seguida quando nasceu seu primeiro filho. Airton Monte nasceu em Fortaleza, 1949 tem 61 (em 2010) anos, nunca saiu de Fortaleza. Nasceu na Rua Dom Jerônimo, de parto normal, filho do primeiro amor, e como dizia sua mãe, do primeiro descuido. E foi criado no território da Gentilândia, do Benfica e do Jardim América. E que ainda freqüentemente circula na Gentilândia, nos bairros do Benfica. Todos os sábados vai ao Clube do Bode, que é a livraria do Sérgio Braga, um de seus amigos. E bebem no Florida Bar, que é o braço armado do Clube do Bode.
Airton é médico psiquiatra formado pela Universidade Federal do Ceará-UFC. Cronista do O POVO, redator de televisão, letrista, teatrólogo. A maioria de sua obra é constituída de contos e crônicas. Publicou “O Grande pânico” (1979), “Homem não chora” (1981), Alba Sangüínea (1983) e “Moça com flor na boca” (2005), adotado pelo vestibular da UFC. Airton Monte ocupa no Ceará, o posto de cronista maior. Senta-se, agora, em iluminada cadeira – a mesma, antes habitada, hierarquicamente, por João Brígido, Caio Cid, Milton Dias e Ciro Colares. Airton Monte escreve em forma de ziguezague; desse modo, um de seus procedimentos é o de eliminar verdades absolutas; e brinca com o leitor, ao conduzi-lo por caminhos falsos. Funciona mais ou menos assim: apresenta um argumento, enumera justificativas e finge completar o pensamento; mas apenas finge completá-lo, pois, logo em seguida, toma um outro rumo.
Algumas vezes, coloca algo bem pessoal em suas crônicas, mas nunca se arrepende, porque tudo é consciente. Airton não é daquele sujeito que escreve com raiva. O texto  mais polêmico foi o Tratado Geral da Maconha, que quase o levou  preso porque o Moroni (Bing Torgan)  acusou- lhe de incentivo e apologia ao uso e ao tráfico de drogas. Porém, alguns textos seus foram  muito marcantes publicados  na época em que sua mãe faleceu.  Airton acompanhou a agonia de sua mãe na UTI, envolveu-se muito, pois ela estava na UTI pela vigésima vez, e aquilo dava uma dor imensa. Dai escreveu na emoção, estava no consultório, quando soube que sua mãe acabará de falecer. Quem tinha dado a triste noticia foi Dona Sônia, mulher de Airton. Contudo atendeu todos os pacientes com a mesma calma que podia aparentar e foi para o velório. Ficou lá até meia noite, pediu para deixa-lo em casa,  e escreveu a crônica numa máquina de escrever, avisou para a empregada que de manhã o motoqueiro vinha pegar. Nem dormiu. Encheu a cara de uísque, foi para o funeral e ficou lá até sua mãe ser sepultada. Só não assistiu à missa. E voltou para escrever, escreveu umas três vezes. São esses textos mais pessoais, escritos por Airton Monte.
Dona Sônia, esposa de Airton Monte, diz que o marido nunca sabe cobrar pelos textos que lhe são encomendados. Até mesmo os laudos periciais da psiquiatria, ele a pergunta sempre por quanto que tem que cobrar.  Bárbara, filha de Airton Monte, é quem coordena a página dedicada ao pai no orkut, site de relacionamentos da internet. “Uma vez ela ficou furiosa porque perguntaram a ela se ele batia em mim”, conta dona Sônia. “Minha filha não fique assim, diga que eu bato nela, bato em você, bato no Pablo (filho de Airton), bato no cachorro, em todo mundo”, conta Airton às gargalhadas.
Até pouco tempo Airton tinha três ou quatro livros de poesia prontos, além de um romance, uma novela sobre futebol, uma peça de teatro e um livro de contos “Os bailarinos” todos arquivados. Mas que por ventura no dia cinco de setembro de 2010 sai no jornal Diário do Nordeste a publicação do novo conto do poeta e cronista, Airton Monte. Que retorna com os 34 contos que compõem o livro “os bailarinos”. Embora até o pouco tempo estivesse no fundo da gaveta, só esperando talvez o momento certo para sua publicação.
Airton Monte é um cronista consciente de seu papel. Sabe, exatamente, a dimensão de seu nome na cidade de Fortaleza. Tem consciência da repercussão do que expõe em seus textos. Escatológico, convive com a consciência da decomposição de tudo, do destino do perecível, por isso, de quando em vez, abraça a efemeridade. Finalmente, ressalta-se o discurso intertextual como uma das marcas de seu discurso literário, uma vez que é um leitor voraz e carrega dentro si, entrelaçados, fragmentos de tantas léguas de livros; bem como de canções, amante que é de jazz, de blues, da bossa-nova, do samba-canção, dos boleros etc. E que agora nos traz uma novidade com seu conto os bailarinos, inscrevendo se como uma das altas vozes da narrativa curta em nossa contemporaneidade. Airton Monte marido de Sônia, pai de Pablo e Bárbara, torcedor do Botafogo, é um cearense mulato.

* - Aluna do curso de letras- língua portuguesa da Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA/CE

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Erradicar a prática do tabagismo em ambientes públicos fechados: eis a questão


Luca Vianni*

O hábito de fumar é tão antigo quanto a humanidade. Adquiriu grande prestígio no Ocidente durante longo período no século XX. Por décadas, o consumo do cigarro, charuto ou cachimbo conheceu grande esplendor na boca e mãos de atores e atrizes famosos e, certamente por isso, teve glamour garantido exercendo indiscutível fascínio sobre plateias ávidas para imitar hábitos e até cacoetes dos grandes astros hollywoodianos. Desde o início do cinema falado, a indústria do tabaco percebeu ali o filão para auferir lucros consideráveis. Aliou-se então às grandes produtoras cinematográficas americanas fazendo com que os ídolos da sétima arte fossem mostrados frequentemente nas cenas mais decisivas dos enredos sempre com um cigarro ou mesmo um charuto à boca. O hábito foi visto nos velhos westerns, passou por grandes épicos e dramalhões e desembocou nos mais diversos seriados policiais ou de qualquer outro gênero. Galãs e suas partners de todos os matizes eram invariavelmente apresentados ao grande público exercitando o glamouroso hábito de fumar. O gesto exerceu incontestável influência sobre expressivas plateias nos mais variados setores sociais e se disseminou de tal modo que as vendas e o consumo do tabaco tiveram curva vertiginosamente ascendente por todo o planeta. Fumar tornou-se cult! Era elegante fumar! Raríssimo era encontrar alguém que não tivesse seu cigarrinho no bolso ou na boca. Porém, ai porém, como tudo na vida tem preço, o hábito de fumar também revelou para os fumantes, de modo inexorável, o outro lado da moeda. O que dá pra rir dá pra chorar.
A fumaça aspirada pelo indivíduo também exerce sobre o organismo sua ação deletéria implacável e irreversível. As mais de 4700 substâncias químicas (chumbinho pra matar rato, querosene, solvente, alcatrão, etc) adicionadas ao fumo contido em apenas um cigarro - e absorvidas a cada tragada - vão se alojar no interior de todo o sistema respiratório fixando-se preferencialmente sobre os alvéolos pulmonares, brônquios e demais órgãos do sistema, afetando ainda sobremodo órgãos como a boca, a língua e os dentes. Raro não se ver um fumante ou uma fumante que não tenha os dentes escurecidos pelo acúmulo de nicotina - um dos ingredientes nocivos do cigarro, causador-mor de uma indesejável halitose. Ressalte-se, um dos males menores do hábito de fumar. Porque quando o costume avança para o quadro da dependência tabagista, a qualidade de vida do indivíduo já sofreu danos irreparáveis devido à saúde ter sido profundamente abalada quando se constatam doenças como a tuberculose, o enfisema pulmonar ou o câncer de pulmão, males cuja reversibilidade é impossível - principalmente quando identificados em estágio avançado de desenvolvimento. Mais grave nessa história é que os mesmos efeitos deletérios do hábito de fumar também atingem com a mesma força agressiva pessoas que nunca fumaram, mas que simplesmente convivem com fumantes. Essas vítimas involuntárias são os chamados fumantes passivos, os quais, em muitos casos comprovados cientificamente, acabam pagando o altíssimo preço de adquirir doenças incuráveis e, na maioria das vezes, letais.   

É por essas e outras que os frequentadores do tradicional e venerando barzinho, bebedores compulsivos e amantes inveterados do bom papo e da boa companhia, da música de qualidade e defensores incondicionais da vida saudável - além de sabedores dos efeitos danosos seguidos dos malefícios proporcionados pelo vício tabagista, sugerem fraterna e democraticamente aos ilustres senhorios desses sacrossantos lugares que recebam seus frequentadores como num oráculo: com alegria e bom humor em ambiente asséptico, incondicionalmente livre da nocividade do tabaco e congêneres.  O incômodo sempre presente causado pelo uso do cigarro em bares, restaurantes e assemelhados é o grande inconveniente para os demais frequentadores que, diga-se a bem da verdade, são atualmente bem mais numerosos e sempre dispostos a gastar mais.
Bares, restaurantes e similares, indistintamente, deveriam estar isentos das mazelas do consumo mórbido do tabaco em todas as suas modalidades e acolher seus habitués de braços e coração plenos de saúde e satisfação. Como é para o bem de todos os amantes etílicos da boa vida e felicidade geral da intrépida nação notívaga, sempre disposta a transfundir significativas somas pecuniárias em favor dos seus anfitriões e crupiês, que doravante se declare o barzinho TERRITÓRIO DEFINITIVAMENTE LIVRE DO TABACO!!!

*Jornalista e Acadêmico de Farmácia na UFC (Universidade Federal do Ceará)


31 de maio - Dia Mundial Sem Tabaco
Tabagismo
O tabagismo é considerado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) a principal causa de morte evitável no mundo. A organização estima que um terço da população mundial adulta, isto é, cerca de 1 bilhão e 200 milhões de pessoas, sejam fumantes. Pesquisas comprovam que aproximadamente 47% de toda a população masculina mundial e 12% da feminina fumam.
Divulgação/Ministério da Saúde Ampliar
  • Maço de cigarro carrega mensagem alertando sobre os riscos para quem fuma
A fumaça do cigarro tem mais de 4,7 mil substâncias tóxicas. O alcatrão, por exemplo, é composto de mais de 40 compostos cancerígenos. Já o monóxido de carbono (CO) em contato com a hemoglobina do sangue dificulta a oxigenação e, consequentemente, ao privar alguns órgãos do oxigênio causa doenças como a aterosclerose (que obstrui os vasos sanguíneos). A nicotina é considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) droga psicoativa que causa dependência. Ela também aumenta a liberação de catecolaminas, que contraem os vasos sanguíneos, aceleram a freqüência cardíaca, causando hipertensão arterial.
O tabagismo está relacionado a mais de 50 doenças sendo responsável por 30% das mortes por câncer de boca, 90% das mortes por câncer de pulmão, 25% das mortes por doença do coração, 85% das mortes por bronquite e enfisema, 25% das mortes por derrame cerebral. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), todo ano cinco milhões de pessoas morrem no mundo por causa do cigarro. E, em 20 anos, esse número chegará a 10 milhões se o consumo de produtos como cigarros, charutos e cachimbos continuar aumentando.
Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), o tabaco também tem relação com a impotência sexual e infertilidade masculina pois, segundo estudos, prejudica a mobilidade do espermatozóide. Os mesmos prejuízos também são atribuídos ao cachimbo e ao charuto. Apesar de não serem tragáveis, possuem uma concentração de nicotina maior, que é absorvida pela mucosa oral.
Não só o fumo ativo, mas o passivo também aumenta os riscos de doença. Sete não fumantes morrem por dia em consequência do fumo passivo. O tabagismo passivo aumenta em 30% o risco para câncer de pulmão e 24% o risco para infarto.
Tratamentos e benefícios
Os tratamentos mais eficazes unem apoio medicamentoso com mudanças de hábitos. A combinação é importante porque o tabaco causa dependência física, psicológica e comportamental, veja os detalhes:
Física: Cada tragada tem 4.730 substâncias e, com o tempo, o corpo do fumante passa a precisar do cigarro para funcionar. Quando se tira essas substâncias, particularmente a nicotina, o corpo vive uma espécie de curto-circuito e entra em síndrome de abstinência. Os principais sintomas são ansiedade, inquietação, sonolência ou insônia, e prisão de ventre.
Psicológica: O cigarro torna-se uma “bengala” para o viciado, que passa a fumar mais quando está estressado, triste e se sentindo sozinho.
Comportamental: O fumante tem uma rotina com o cigarro. Há momentos em que o fumar é um hábito automático. Depois da refeição, com o cafezinho, após ir ao banheiro, etc.
Especialistas aconselham as pessoas a marcar uma data para largar o vício. Há dois métodos para parar de fumar: imediatamente ou gradualmente. O método mais adequado é a parada imediata, no qual você marca uma data e, a partir desse dia, não fuma mais nenhum cigarro. Esta deve ser sempre sua primeira opção. Outra alternativa é parar gradualmente, reduzindo o número de cigarros ou retardando a hora do primeiro cigarro do dia. Mas você não deve gastar mais de duas semanas, pois pode se tornar uma forma de adiar, e não de parar de fumar.
Para reduzir o número de cigarros, diminua um pouco a cada dia. Por exemplo, uma pessoa que fuma 30 cigarros por dia, no primeiro dia fuma os 30 cigarros usuais, no segundo dia 25, no terceiro 20, no quarto 15, no quinto 10 e no sexto fuma apenas 5 cigarros. O sétimo dia é a data para deixar de fumar e o primeiro dia sem cigarros.
Ao retardar a hora do primeiro cigarro, o fumante deve proceder com o mesmo método gradual. Por exemplo, no primeiro dia você começa a fumar às 9h, no segundo às 11h, no terceiro às 13h, no quarto às 15h, no quinto às 17h e no sexto às 19 h. O sétimo dia é a data para deixar de fumar e o primeiro dia sem cigarros.
Lembre-se também que fumar cigarros de baixos teores não é uma boa alternativa. Todos os tipos de derivados do tabaco (cigarros, charutos, cachimbos, cigarros de Bali, etc.) fazem mal à saúde. Cuidado com os métodos milagrosos para deixar de fumar. Caso não consiga parar de fumar sozinho, procure orientação médica.
Para obter informações sobre tabagismo consulte o site do Instituto Nacional de Câncer (Inca) [http://www1.inca.gov.br/tabagismo/], órgão do Ministério da Saúde responsável por coordenar e executar o Programa de Controle do Tabagismo no Brasil.
Ou ligue no Disque Saúde (0800-611997).

Leis Antifumo pelo Brasil
Desde 1996, o Brasil conta com uma lei federal número 9.294 que restringe o uso – e também a propaganda – de produtos derivados de tabaco em locais coletivos, públicos ou privados, com exceção às áreas destinadas para seu consumo, desde que isoladas e ventiladas (também conhecidos como fumódromos).
Porém, com o objetivo de se aproximar mais do artigo 8 da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco, tratado internacional elaborado pela Organização Mundial da Saúde e do qual o Brasil é signatário, estados e municípios têm elaborados leis que eliminam a presença dos fumódromos e proíbem o consumo de cigarros, charutos, cachimbos e cigarrilhas em bares, restaurantes, casas noturnas, escolas, áreas comuns de condomínios e hotéis, supermercados, shoppings etc.
A fiscalização, aliada à aplicação de multas (previstas em lei) aos estabelecimentos e à adesão da população, tem feito com que as leis sejam, de fato, respeitadas.
Por enquanto, sete estados possuem leis que deixam o ambiente 100% livre da fumaça do cigarro: Amazonas, Paraíba, Paraná, Rio de Janeiro, Rondônia, Roraima e São Paulo. Nestes estados, além de restringir o uso em ambientes coletivos fechados, é vedada a criação de fumódromos dentro dos estabelecimentos. Acre, Piauí e Rio Grande do Norte esperam se juntar a este grupo: desde 2009 tramitam em suas Assembleias Legislativas projetos de lei para a criação de ambientes livres do tabaco.
Em comum, as legislações estaduais têm: a proibição do fumo em locais fechados, a atuação de agentes fiscalizadores, a possibilidade de a população denunciar estabelecimentos em que a lei não é aplicada, e a liberdade que os donos ou responsáveis por tais lugares têm de expulsar quem não segue a legislação (vale lembrar que são eles quem pagam a multa e podem ter seus negócios fechados).
Além dos Estados já citados, outros 15 mais o Distrito Federal possuem leis específicas para proibição ao fumo em locais fechados. A diferença é que nestas regiões é permitida a criação de fumódromos. O Amapá é a única unidade da Federação que não possui legislação antitabaco.
Algumas cidades do País também possuem leis próprias que proíbem o uso do cigarro em ambientes fechados. Parte delas foi criada antes das leis estaduais. Belo Horizonte, por exemplo, proíbe o cigarro (mas permite fumódromos) desde 1995 enquanto a lei válida para todo o Estado de Minas Gerais só entrou em vigor em 2010.
Estados com leis antitabaco, sem fumódromo
Amazonas
Paraíba
Paraná
Rio de Janeiro
Rondônia
Roraima
São Paulo
Estados com leis antitabaco, mas que permitem fumódromo
Alagoas
Bahia
Ceará
Distrito Federal
Espírito Santo
Goiás
Maranhão
Mato Grosso
Mato Grosso do Sul
Minas Gerais
Pernambuco
Pará
Rio Grande do Sul
Santa Catarina
Sergipe
Tocantins
Estados com projetos de lei antitabaco em tramitação
Acre
Rio Grande do Norte
Piauí
Estado sem legislação antitabaco
Amapá