quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Contos: As Viagens que Fizemos e as que não Pudemos... em Fascículos

2º Fascículo – 2º Conto
 Gláucia Lima
Entre a Serra e o Sertão

Era noite e o vento fresco estava agradável. Ele devia ter alguma idéia, pois decidiu viajar em seu próprio carro. Não era lá um carro novo. Mas, era grande, confortável. E tinha... Podia levar e trazer quem bem quisesse. E, ele queria. Ele dirigia. Ela foi com ele. E mais outros dois casais de amigos, colegas de trabalho.

Ainda no compromisso, na confraternização final, sempre que seus olhos se encontravam e se buscavam, era uma emoção que fuzilava a ambos. Emoção saudosa, emoção de reencontro, emoção de começo... e de recomeço.
 
panorâmica da cidade vista do Rio
Aquela cidade, naquele sertão da região norte do Estado parecia ter o sol mais quente do planeta... Todavia, no dia seguinte, há 15 minutos dali, subiram a Serra. Era domingo e o frescor daquela brisa naquele resort serrano, aplacava o sol do dia anterior, na cidade de baixo. Lá ela descobriu, mesmo só compreendendo depois, o porque de ele estar em carro próprio e não no do trabalho. Seu pai se encontrava hospedado ali. Mesmo ele, seu pai, não sabendo nada, ela conheceu o ‘sogro’ nesse dia. Sogro que muito breve se transformaria em ‘segundo pai’, tal a amizade que surgiu entre ambos.
 
estrada da cidade à Serra
A empatia foi tanta que despertou a curiosidade e ele lhe diz que o pai já sabe dos dois...
_como assim, você falou? Indagava num mister de surpresa e timidez de quem é descoberto.
Ele esclarece que não falou, mas que conhecendo o pai ele deve ter percebido algo pelas suas atitudes.

Era verdade. A amizade foi se estreitando e logo foi indagada por ele, o pai, a cerca dos dois. Não com curiosidade, mas com alegria. Pega de surpresa com a pergunta, não lhe restou saída senão confirmar o que seu coração de pai já havia percebido. Ainda mais com a declaração do sogro que via “brilho, luz e alegria” nos olhos do filho, coisa que já havia se perdido e esquecido de ver em tanto tempo.


Naquela noite, regressando à capital, sentiam e se inspiravam na brisa pra fazer amor. O vento e o frescor estavam ainda mais agradáveis...

1º Fascículo - 1º Conto:
Gláucia Lima

No Patamar da Glória

Haviam feito amor pela primeira vez há apenas cinco dias...

Já se conheciam, pelo menos há uns três anos. Poucos encontros, é certo. Até amiudar com a campanha da disputa na diretoria sindical. Viam-se agora com bastante freqüência. Ele havia pedido seu telefone, mas não ligou. Soube que era casada. Ele também era.

Reuniões de formação e/ou composição de chapas. Eram muitas reuniões. Encontros, encontros e desencontros. Tentativas frustradas de um envolvimento, conflitos e angustias de quem busca firmar algo incerto. Dúvidas confundiam a ambos.

Dentre tantos encontros e tentativas, festas, danças e beijos roubados. Eram tentativas frustradas por diversas questões de “ordem” (risos). Caronas, músicas, olhares, sorrisos, coincidências de toda “ordem” também. Algumas coisas os uniam inconscientemente. Gostos parecidos. Seja musical, cinema ou afinidades. Arquitetura, por exemplo, ou reformas e desenhos etc.

A vitória das eleições no sindicato, mesma chapa, os colocou definitivamente em cheque. Ela era dissidente da gestão atual e ele, neófito naquela lida vindo de outra lida, gestão administrativa.

Estreando, agora juntos, na diretoria sindical da base da empresa que trabalhavam, mesas vizinhas, ambos vivendo “quase a mesma situação” conjugal: separados na mesma casa. Encontraram um no outro guarida para o colo e o coração.
Era, sim, uma novidade para ela. Quiçá para ambos. Algo novo em vários sentidos: Primeiro envolvimento na empresa de trabalho, primeiro ‘caso’ na diretoria do sindicato.

E foi a “grande obra” (reforma do sindicato) e a construção de um espaço cultural na entidade que acabou por coloca-los ainda mais na “Berlinda”...
Ela, de uma certa forma resolve sua situação pessoal. Dia posterior à festa da posse, separação definitiva do marido. Mas, ainda, efetivamente, não tinham nada...

Tomados posse, decidem por viagens pelas cidades do interior para agradecer o sufrágio das urnas.  Começam as escalas de equipes e localidades. Mas antes... sábado anterior ao dia dos pais, ainda mais uma tentativa, que a princípio pareceria só mais uma das tentativas frustrantes de sempre, não foi. Ta certo, também não foi assim tão rápido não. Afinal, as tentativas começaram por volta das nove horas da manhã e já se aproximando a meia noite e depois de percorrerem um par de restaurantes... Decidem-se por um “suco de Açaí” (risos). 

Era o encontro de emoções, sensações, almas e corpos. Timidez clara de ambos. Ela, porém, certamente o surpreendeu pelo tamanho da timidez. Afinal, com características de descontração e alegria, a intimidade desvela outro matiz.

Mas, ela militava também na política de sua cidade natal. E, vinha já fazendo um trabalho de aproximação com seus conterrâneos. Vez ou outra viajava pra cidade e seus municípios/distritos em visitas, encontros e reuniões com o povo dos querer de sua família, principalmente seu pai político.

Ele e sua equipe voltavam de viagem quando recebem convite dela que viajava ao seu interior, para o tradicional leilão da festa da Padroeira Nossa Senhora da Glória.
Ele e outros aceitaram e foram ao encontro do festejo. E dela, claro (risos).
Era véspera do dia da Santa. A cidade se enfeitou, as casas e seus altares de santos lembravam a data festiva. Os cânticos de época fazendo referência à Divindade, treinados pelos devotos que acompanharam as novenas nas casas e a maior procissão da cidade.

E, nesse clima sacro, no Patamar da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Glória, seus olhos se encontram e sorriem num mister de alegria e emoção.
Voltariam juntos para a capital, no dia seguinte, depois de um banho de açude no balneário da cidade. Após reverenciar a Senhora e Mãe das Águas em seu dia.
Odôia! Odofeiabá! Salve Yemanjá!
Foi, também depois daí, que falaram de amor pela primeira vez. Vai ver, inspirados pelas bênçãos da Santa.
Era a primeira viagem dos dois depois de terem feito amor pela primeira vez... Há apenas cinco dias.

Abençoe-nos, Mãe!
Permita que o Amor seja nossa maior fonte de Energia!






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