José Lourenço Gomes
da Silva, líder da comunidade Caldeirão de Santa Cruz do Deserto,
localizada na zona rural do Crato (Ceará),nasceu em Pilões de Dentro-1872 e faleceu aos 74
em 12 de fevereiro de 1946.
José
Lourenço trabalhava para latifundiários paraibanos como agricultor. Cansado do trabalho árduo e mal remunerado, mudou-se para Juazeiro do Norte, atraído pela
devoção ao Padre Cícero. Lá, conquistou a confiança do sacerdote e foi encarregado de liderar uma missão, para
onde Padre Cícero enviaria os flagelados da região. José Lourenço
então arrendou terras no sítio
Baixa Dantas para iniciar a produção.
A comunidade se desenvolveu rapidamente, o que despertou a fúria dos fazendeiros da região. Com bastante esforço de José Lourenço e os demais romeiros, em pouco tempo a terra prosperou, e eles produziram bastante cereais e frutas. Diferente das fazendas vizinhas, na comunidade toda a produção era dividida igualmente.
José Lourenço tornou-se líder daquele povoado, e se
dedicou à religião, à caridade e a servir ao próximo. Mesmo analfabeto, era ele quem dividia as tarefas e
ensinava agricultura e medicina popular. Para o sítio Baixa Dantas
eram enviados, por Padre Cícero, assassinos, ladrões e
miseráveis, enfim, pessoas que precisavam de ajuda para trabalhar e obter sua fé.
Após o surgimento da Sedição de
Juazeiro, da qual José Lourenço não participou, suas terras foram
invadidas por jagunços. Com o fim da revolta, José Lourenço e seus seguidores reconstruíram o
povoado.
Em 1921, Delmiro Gouveia presenteou Padre Cícero com um boi, chamado Mansinho, e o entregou aos cuidados de José Lourenço. Com o intuito de pôr a comunidade em descrédito, os inimigos de Padre Cícero, se aproveitaram disso espalhando boatos de que membros da Comunidade idolatravam (as pessoas estariam adorando) o boi como a um Deus.
A Igreja Católica, que já estava irritada com os supostos fenômenos sobrenaturais ocorridos em Juazeiro do Norte, pressionou Padre Cícero para que tomasse uma decisão. Por conta disso, o boi foi morto e José Lourenço foi preso a mando de Floro Bartolomeu que ordenou que sacrificassem o boi e prendessem José Lourenço. O beato foi solto algumas semanas depois por
influência de Padre Cícero.
Depois da
confusão, José Lourenço decidiu transferir a comunidade para o Caldeirão, um
local mais afastado. Entretanto as perseguições continuaram e em 1937, a comunidade foi invadida e arrasada por forças
estaduais e federais, com apoio do setor religioso e latifundiários locais.
ruínas da casa onde morou o beato José Lourenço (foto do Diário do Nordeste) |
Em 1926, o sítio Baixa Dantas foi vendido e o novo proprietário
exigiu que os membros da comunidade saíssem das terras. Com isso, Padre Cícero resolveu alojar o beato e os romeiros
em uma grande fazenda denominada Caldeirão dos Jesuítas,
situada no Crato,
onde recomeçaram o trabalho comunitário, criando uma sociedade igualitária que tinha como base a
religião. Toda a produção do Caldeirão era dividida igualmente, o excedente era
vendido e, com o lucro, investia-se em remédios e querosene.
No Caldeirão cada família tinha sua casa e órfãos eram afilhados do beato. Na fazenda
também havia um cemitério e uma igreja, construídos pelos
próprios membros. A comunidade chegou a ter mais de mil habitantes. Com a
grande seca de 1932, esse número
aumentou, pois lá chegaram muitos flagelados.
Após a morte de Padre Cícero,
muitos nordestinos passaram a considerar o beato José Lourenço como seu sucessor.
Devido a muitos grupos de pessoas começarem a ir para o Caldeirão
e deixarem seus trabalhos árduos, pois viam aquela sociedade como um paraíso,
os poderosos, a classe dominante, começaram a temer aquilo que consideravam ser
uma má influência.
Caldeirão era uma comunidade autossustentável que dava abrigo às famílias camponesas que fugiam da exploração imposta pelos latifundiários, podendo ser comparada com Canudos.
seguidores do Beato José Lourenço no Sítio Caldeirão. O massacre promovido pela polícia vitimou adultos e crianças |
Massacre
Em 1937, sem a proteção de Padre Cícero,
que falecera em 1934, a fazenda foi invadida e destruída por grandes
latifundiários e pelas forças do governo de
Getúlio Vargas, que acusavam a comunidade de comunismo. Os sertanejos
sobreviventes dividiram-se, ressurgindo novamente pela mata em uma nova
comunidade, a qual em 11 de maio foi invadida novamente, mas dessa vez por
terra e pelo ar, quando aconteceu um grande massacre, com o número oficial de
400 mortos (outras estimativas, no entanto, chegam a mais de mil pessoas
mortas). Os familiares e descendentes dos mortos nunca souberam onde
encontra-se os corpos, pois o Exército Brasileiro e a Polícia Militar do Ceará
nunca informaram o local da vala comum na qual os seguidores do Beato foram
enterrados. Presume-se que a vala coletiva encontra-se no Caldeirão ou na Mata
dos Cavalos, na Serra do Cruzeiro (região do Cariri).
José Lourenço fugiu para Exu/PE, onde morreu aos 74 anos (1946),
de peste bubônica,
tendo sido levado por uma multidão para Juazeiro,
onde foi enterrado no cemitério do Socorro.
No dia 12 de fevereiro de 1946, José Lourenço morre de morte natural na Fazenda União. Seus seguidores atravessando a serra carregam seu corpo por treze léguas. Caminham por toda a noite e, ao raiar do dia chegam a Juazeiro, onde o beato é velado pelos romeiros. José Lourenço foi enterrado no Cemitério do Socorro, bem ao lado da igreja onde se encontra o corpo de Padre Cícero.
O Caldeirão da Santa Cruz do Deserto foi um dos movimentos
messiânicos que surgiu
nas terras no Crato, Ceará. A comunidade era
liderada pelo paraibano de Pilões de Dentro, José Lourenço Gomes da Silva, mais
conhecido por beato José Lourenço.
No Caldeirão, os romeiros e imigrantes trabalhavam todos em favor
da comunidade e recebiam uma quota da produção. A comunidade era pautada no trabalho, na igualdade e na Religião.
Caldeirão hoje
Da época da
Irmandade do Caldeirão de Santa Cruz do Deserto, existem ainda a capela branca,
que tem como padroeiro Santo Inácio de Loyola, ao lado da ermida, duas
casas, um muro de laje de um velho cemitério, um cruzeiro e no alto as ruínas da residência
do beato José Lourenço.
Atualmente,
47 famílias revivem o sonho coletivo de produção idealizado por José Lourenço, num sítio denominado Assentamento
10 de Abril, 2 a
37 km do centro do Crato.
No local encontram-se 47 casas, sendo que 44 de alvenaria e
uma escola,
porém sem ostentar a grandeza atingida pelo então Caldeirão do beato José Lourenço .
As famílias
residentes mantém uma horticultura orgânica (couve, coentro, cenoura, macaxeira, alface, pimentão e espinafre estão
entre as hortaliçascultivadas) e uma lavoura para auto-abastecimento.
Parte dos homens também mantém um produtivo apiário,
que contribui para os rendimentos do grupo.
A ONG SOS Direitos
Humanos entrou com uma ação civil pública no ano de 2008 na Justiça
Federal do Ceará, contra o Governo Federal do Brasil eGoverno do Estado do Ceará, requerendo que
o Exército Brasileiro:
·
a) torne público o local da vala comum,
·
b) realize a exumação dos
corpos,
·
c) identifique as vítimas via exames de DNA,
·
d) enterre os restos mortais de forma digna,
·
e) indenize no valor de R$ 500 mil, todos os
familiares das vítimas e os remanescentes,
·
f) inclua na história oficial, à título pedagógico,
a história do massacre / chacina / genocídio do
Sítio da Santa Cruz do Deserto, ou Sítio Caldeirão.
A pedido do
Ministério Público Federal da cidade de Juazeiro do Norte, a ação foi extinta
sem julgamento de mérito pelo juiz da 16ª Vara Federal
de Juazeiro do Norte. A ONG SOS DIREITOS HUMANOS, inconformada com a decisão,
recorreu ao egrégio Tribunal Regional Federal da 5ª Região emRecife Pernambuco,
requerendo que a ação seja julgada o mérito porque o crime cometido contra a
comunidade do Sítio Caldeirão é de lesa humanidade, e portanto,
imprescritível.
A ONG
"SOS DIREITOS HUMANOS" no ano de 2009, denunciou o Brasil à OEA - Organização dos
Estados Americanos, por crime de desaparecimento forçado de pessoas e para que
seja obrigada a informar a localização da vala comum com as 1000 vítimas do
Sítio Caldeirão. A entidade considera o sítio Caldeirão como o Araguaia do Ceará, uma vez que os
militares mataram 1000 pessoas e após, enterraram em vala comum em lugar
desconhecido da mata dos cavalos, em cima da Chapada do Araripe. A ONG está pedindo auxílio
à entidades internacionais para que a vala comum seja encontrada, bem como, de geólogos, geofísicos e arqueólogos para
identificar a localização da vala comum.
Em 1986 o cineasta Rosemberg Cariry,
realizou um documentário rico em depoimentos de sobreviventes do
massacre. Caldeirão é um movimento considerado como uma outra Guerra de
Canudos.
A Cia. do
Tijolo, grupo artístico, apresenta ainda (2010) espetáculo que conta
a história do Caldeirão, e exalta também Patativa do Assaré, poeta nascido no nordeste brasileiro.
Ações
Em 2008, a ONG cearense SOS
Direitos Humanos ajuizou uma Ação Civil Pública na Justiça Federal do Ceará
requerendo que a União Federal e o Estado do Ceará informem a localização da
cova comum onde o Exército e a Polícia Militar do Ceará enterraram as vítimas
do Sítio Caldeirão que massacraram em 1937.
A ação foi
extinta sem julgamento de mérito pelo juiz da 16ª Vara Federal de Juazeiro do
Norte/CE, a pedido do MPF que em seu parecer disse que:
·
a) o massacre ocorreu há mais de 70 anos e estava
prescrito,
·
b) nao há como encontrar os restos mortais pelo
tempo que o crime ocorreu.
A SOS
DIREITOS HUMANOS inconformada com a decisão do juiz apelou ao TRF da 5ª região
em Recife/PE aduzindo que:
·
a) o crime de desaparecimento de pessoas é
imprescritível,
·
b) os restos mortais estão em local árido, a Chapada do Araripe, e portanto podem ser
encontrada, a exemplo da família do Czar Romanov que foi morta em 1918 e encontrada nos
anos de1991 e 2007.
*Gláucia Lima (_Fontes diversas)
O Beato José Lourenço e a Sociedade do Caldeirão
Ceará em Fotos e História: http://cearaemfotos.blogspot.com.br/2012/09/o-beato-jose-lourenco-e-sociedade-do.html
História bem parecida com a de Canudos, porém, em menor proporção de pessoas mortas. Antigamente, os fortes massacravam os fracos e ficava tudo como se nada tivesse acontecido. Lamentável.
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