de onde surgiu... |
A regra do jogo era que um tinha que escrever a palavra "NEOQEAV" num
lugar inesperado para o outro encontrar e assim quem a encontrasse deveria
escrevê-la em outro lugar e assim sucessivamente.
Eles se
revezavam deixando "NEOQEAV" escrita
por toda a casa, e assim que um a encontrava era sua vez de escondê-la em outro
local para o outro achar.
Eles
escreviam "NEOQEAV" com os dedos no açúcar dentro do açucareiro ou no
pote de farinha para que o próximo que fosse cozinhar a achasse. Escreviam na
janela embaçada pelo sereno que dava para o pátio onde minha avó nos dava pudim
que ela fazia com tanto carinho.
"NEOQEAV" era
escrita no vapor deixado no espelho depois de um banho quente, onde a palavra
iria reaparecer depois do próximo banho.
Uma vez, minha avó até desenrolou um rolo
inteiro de papel higiênico para deixar "NEOQEAV" na última folha e
enrolou tudo de novo.
Não havia limites para onde "NEOQEAV"
pudesse surgir.
Pedacinhos
de papel com "NEOQEAV" rabiscado
apareciam grudados no volante do carro que eles dividiam.
Os
bilhetes eram enfiados dentro dos sapatos e deixados debaixo dos travesseiros.
"NEOQEAV" era
escrita com os dedos na poeira sobre as prateleiras e nas cinzas da lareira.
Esta misteriosa palavra tanto fazia parte da casa de meus avós quanto da
mobília. Levou bastante tempo para eu passar a entender e gostar completamente
deste jogo que eles jogavam. Meu ceticismo nunca me deixou acreditar em um
único e verdadeiro amor, que possa ser realmente puro e duradouro.
Porém, eu
nunca duvidei do amor entre meus avós.
Este amor
era profundo. Era mais do que um jogo de diversão, era um modo de vida.
Seu
relacionamento era baseado em devoção e uma afeição apaixonada, igual as quais
nem todo mundo tem a sorte de experimentar. O vovô e a vovó ficavam de mãos
dadas sempre que podiam.
Roubavam
beijos um do outro sempre que se batiam um contra outro naquela cozinha tão
pequena. Eles conseguiam terminar a frase incompleta do outro e todo dia
resolviam juntos as palavras cruzadas do jornal. Minha avó cochichava para mim
dizendo o quanto meu avô era bonito, como ele havia se tornado um velho bonito
e charmoso.
Ela se
gabava de dizer que sabia como pegar os namorados mais bonitos.
Antes de
cada refeição eles se reverenciavam e davam graças a Deus e bençãos aos
presentes por sermos uma família maravilhosa, para continuarmos sempre unidos e
com boa sorte.
Mas uma
nuvem escura surgiu na vida de meus avós: minha avó tinha câncer de mama. A
doença tinha primeiro aparecido dez anos antes.
Como sempre, vovô estava com ela a
cada momento.
Ele a
confortava no quarto amarelo deles, que ele havia pintado dessa cor para que
ela ficasse sempre rodeada da luz do sol, mesmo quando ela não tivesse forças
para sair.
O câncer
agora estava de novo atacando seu corpo.
Com a ajuda de uma bengala e a mão
firme do meu avô, eles iam à igreja toda manhã. E minha avó foi ficando cada
vez mais fraca, até que, finalmente, ela não mais podia sair de casa. Por algum
tempo, meu avô resolveu ir à igreja sozinho, rezando a Deus para zelar por sua
esposa. Então, o que todos nós temíamos aconteceu.
Vovó
partiu.
"NEOQEAV" foi gravada em amarelo nas fitas cor-de-rosa
dos buquês de flores do funeral da vovó.
Quando os
amigos começaram a ir embora, minhas tias, tios, primos e outras pessoas da
família se juntaram e ficaram ao redor da vovó pela última vez.
Vovô ficou
bem junto do caixão da vovó e, num suspiro bem profundo, começou a cantar para
ela.
Através de
suas lágrimas e pesar, a música surgiu como uma canção de ninar que vinha bem de
dentro de seu ser. Me sentindo muito triste, nunca vou me esquecer daquele
momento. Porque eu sabia que mesmo sem ainda poder entender completamente a
profundeza daquele amor, eu tinha tido o privilégio de testemunhar a beleza sem
igual que aquilo representava.
Aposto que
a esta altura você deve estar se perguntando:
"Mas
o que NEOQEAV significa?"
Nunca Esqueça O Quanto Eu Amo Você
Nenhum comentário:
Postar um comentário