Eu não tenho medo dos anos e não penso em velhice.
E digo pra você: não pense. Nunca diga estou envelhecendo ou estou ficando
velha.
Eu não digo. Eu não digo que estou ouvindo pouco. É
claro que quando preciso de ajuda, eu digo que preciso.
Procuro sempre ler e estar atualizada com os fatos,
e isso me ajuda a vencer as dificuldades da vida.
O melhor roteiro é ler e praticar o que lê. O bom é
produzir sempre e não dormir de dia. Também não diga pra você que está ficando
esquecida, porque assim você fica mais.
Nunca digo que estou doente, digo sempre: estou
ótima. Eu não digo nunca que estou cansada.
Nada de palavra negativa.
Quanto mais você diz estar ficando cansada e
esquecida, mais esquecida fica. Você vai se convencendo daquilo e convence os
outros. Então silêncio! Sei que tenho muitos anos.
Sei que venho do século passado, e que trago comigo
todas as idades, mas não sei se sou velha não.
Você acha que eu sou? Tenho consciência de ser
autêntica e procuro superar todos os dias minha própria personalidade,
despedaçando dentro de mim tudo que é velho e morto, pois lutar é a palavra
vibrante que levanta os fracos e determina os fortes.
O importante é semear, produzir milhões de sorrisos
de solidariedade e amizade.
Procuro semear otimismo e plantar sementes de paz e
justiça.
Digo o que penso, com esperança. Penso no que faço
com fé. Faço o que devo fazer, com amor.
Eu me esforço para ser cada dia melhor, pois
bondade também se aprende."
*Cora Coralina era o pseudônimo de Ana Lins dos
Guimarães Peixoto Bretas. Esta poetisa e contista, brasileira de Goiás, viveu
até os 95 anos. Das principais escritoras brasileiras, só teve seu primeiro
livro publicado em junho de 1965 (Becos de Goiás e Estórias Mais), quando já
contava com quase 76 anos de idade!
“O que vale na vida não é o ponto de partida e sim a caminhada. Caminhando e semeando, no fim terás o que colher.”
“O que vale na vida não é o ponto de partida e sim a caminhada. Caminhando e semeando, no fim terás o que colher.”
Sonho pra sorrir cantar lutar amar e viver
“Não morre aquele que deixou na terra a melodia de seu cântico na música de seus versos.”
Olhe para estas mãos
de mulher roceira,
esforçadas mãos cavouqueiras.
Pesadas, de falanges curtas,
sem trato e sem carinho.
Ousadas e grosseiras.
Mãos que varreram e cozinharam
Lavaram e estenderam
roupas nos varais.
Pouparam e remendaram.
– Estas mãos
Olhe para estas mãos
de mulher roceira,
esforçadas mãos cavouqueiras.
Pesadas, de falanges curtas,
sem trato e sem carinho.
Ousadas e grosseiras.
Mãos que varreram e cozinharam
Lavaram e estenderam
roupas nos varais.
Pouparam e remendaram.
Mãos domésticas e remendonas.
Íntimas da economia,
do arroz e do feijão
da sua casa.
Do tacho de cobre.
Da panela de barro.
Da acha de lenha.
Da cinza da fornalha.
Que encestavam o velho barreleiro
e faziam sabão.
Minhas mãos doceiras…
Jamais ociosas.
Fecundas, Imensas e ocupadas,
Mãos laboriosas.
Abertas sempre para dar,
ajudar, unir e abençoar.
Mãos de semeador…
Afeitas à sementeira do trabalho.
Semeando sempre.
Jamais para elas
os júbilos da colheita.
Mãos tenazes e obtusas,
feridas na remoção de pedras e tropeços,
quebrando as arestas da vida.
Mãos alavancas
na escava de construções inconclusas.
Mãos pequenas e curtas de mulher
Que nunca encontrou nada na vida.
Caminheira de uma longa estrada.
Sempre a caminhar.
Sozinha a procurar, o ângulo prometido,
a pedra rejeitada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário