sexta-feira, 4 de abril de 2025

Trairi - 300 anos / Cidade no Litoral Cearense

                                             


  A Colonização de Trairi - 

                                                                                                                       _por J. Lucas Jr.*

Terras indígenas e desinteressantes para Portugal por conta das análises desfavoráveis para a presença de minerais preciosos, “a prata”, o Ceará da Era Colonial ficou subordinado a Pernambuco até 1799. Quaisquer tentativas de explorar a sua área passava pela outra colônia, orientada pela Coroa, que, no intuito de povoar o Brasil, criou as sesmarias.

Segundo Raimundo Girão, tratavam-se de concessão pública de terras mediante pedido escrito em que o pretendente declarava o seu nome ou do beneficiário, o lugar de sua moradia, localização geográfica da terra solicitada e o objetivo que tinha em mente, este, em geral, na região nordestina, visando a criação de gado.

Especificamente sobre Trairi, as expedições de suas cartas foram feitas por capitães-mores, destinadas aos governantes de Pernambuco e por sua vez ao rei. E isso ficou registrado.

Conforme os livros de Sesmarias do Ceará, sob as guardas do Arquivo Público do Estado e publicado por historiadores como Thomaz Pompeu Sobrinho, Estêvão Vicente Guerra foi o primeiro sesmeiro. No livro volume 2, número 103, de 12/03/1706, alegando “riacho deserto e desaproveitado”, solicitou três léguas das terras do Rio Trairi “a começar a água salgada para cima”. Na mesma data, no volume 6, número 421, ele complementou: “principiando onde acaba a água salgada” e “o Trairi estava então deserto”. Ano em que a Câmara de Vereadores de São José de Ribamar localizava-se na Barra do Ceará até 1713, quando foi transferida para Aquiraz.

Em 20/05/1718, José Fernandes Manuel Rabelo, alegando que morava a três léguas da barra do rio Trairi, solicitou parte daquelas terras. Entretanto, em 04/04/1725, a viúva de Estêvão Vicente Guerra, Maria Furtado de Mendonça, pernambucana, com 33 anos, recebeu de concessão, conforme registra o volume 11, número 134 do livro, “as terras que correm da água salgada para cima, até encontrar com a água doce do rio Trairi até topar com as terras que se supõe de José Fernandes, que não as povoou”. Duas léguas e meia, ou seja, tamanho inferior à concessão anterior pelo seu marido, embora se suponha a mesma propriedade.

Acreditamos que, nessa data, 4 de abril de 1725, a sesmeira assumiu a posse de imediato, tendo em vista a falência da família após a Guerra dos Mascates, em Pernambuco e às constantes incursões dos holandeses contra os donos de engenhos. Assim, diante da sua devoção religiosa, católica, ergueu a Capela de Nossa Senhora do Livramento, beirando o rio horizontalmente, muito antes da existência da atual sede do Município. O dia em que, entendemos, marca o inicio da colonização particular de Trairi. Há 300 anos.

Reforçando o nosso entendimento a respeito do tricentenário, destacamos o registro, em formato de diário, relatado ao rei D. João V, pelo experiente militar português (e mulato) João da Maia da Gama, ex-governador da Paraíba, sobre uma jornada a partir do Maranhão, onde chegara em 1719, exercendo a função de capitão-mor, cortando o litoral cearense a pé com a sua comitiva, contando com cerca de cem índios da Serra da Ibiapaba e pisando nas areias do Mundaú a 17 de fevereiro de 1728, onde tivera a ajuda dos anacé para atravessar o barra em meio às chuvas.

No dia seguinte, seguindo no rumo de Fortaleza, à tarde, cortando caminho pelos morros, foi traído pelo temporal que fez parte do seu comboio se perder do grupo na noite molhada e escura. Deu-se, enfim, o encontro com a poderosa de um povoado, Maria Furtado de Mendonça, que providenciou a procura com o devido êxito: ...viemos dormir num sítio chamado Trairy, aonde assiste a viúva D. Maria e chegamos já de noite e com chuva todo o dia, e se perdeu parte do comboio pela muita chuva e escuro, e mandamos guia buscá-lo, e nesse dito sítio uma engenhoca que faz algum açúcar, muita aguardente e tem terras bastantes para canas.

Esse interessante documento, publicado em Portugal somente em 1944, nos dá a certeza da existência da primeira indústria trairiense, em tempos tão longínquos, anterior ao algodão, idealizada por uma mulher que conheceu de perto o principal agente econômico da época, na progressiva Pernambuco, onde seu esposo era produtor de derivados da cana de açúcar. Confirma-se que ela chegou em Trairi devidamente estruturada, com maquinário pesado, e imediatamente posto em prática a cultura açucareira em sua nova moradia ao lado de uma salina, certamente no ano de 1725. Assim, a rapidez do encontro da viúva com a comitiva, que se retirou no dia seguinte, evidencia dona Maria Furtado de Mendonça presente no dito engenho, que se localizaria entre a Canabrava e a atual sede, à beira-rio, com a possibilidade de que ela morasse no local ou mesmo nas proximidades da sua igreja. 

Relevante sobre esse encontro histórico é que João da Maia da Gama foi um dos confiados do Rei D. João V para interceder pelos nobres de Olinda (fazendeiros) durante a Guerra dos Mascates (Recife e Olinda, 1710 a 1711). Fato que, durante o seu desfecho final, em 1711, o esposo de D. Maria Furtado faleceu. Os mascates (ricos comerciantes), queriam Recife como Vila, independente de Olinda, chegando a comprar, em dinheiro, desertores. Aliás, após a vitória dos mascates, o rei o repreendeu, assim como ao bispo, por suposta traição. Sorte deles, pois D. João V reconheceu a derrota dos donos de engenhos e foi habilidoso em evitar novos confrontos. Singular nota para entendermos o interesse de Estêvão Vicente Guerra pelas terras de Trairi e consequente transferência da sua família: a crise do sistema econômico da época em Pernambuco.

 

  *J. Lucas JuniorPesquisador e memorialista. Coordenador da Biblioteca Poeta Arievaldo Vianna do InsTI - Instituto Tonny Ítalo.


Fonte: Pompeu, Sobrinho, Thomaz. Sesmarias Cearenses. Fortaleza, SEDUC, 1979.

 No dia da abertura da XV Bienal Internacional, onde lançamos a obra: Sonho - Uma Magia da Grande Arte, livro 3 da Trilogia de Gláucia Lima, a cidade do litoral cearense, Trairi faz 300 anos. E, homenagem a tão importante data, publicamos esta matéria especial do coordenador da Biblioteca do InsTI, Lucas Jr.: pesquisador, memorialista e coordenador da Biblioteca Poeta Arievaldo Vianna.

Mais: Capítulo especial com a Vila Sonhar e o Coletivo ÚTERA, das idealizadoras Mary Pena e Karine Sousa, respectivamente.

E a notícia: nossa Vila Sonhar, receberá a Biblioteca do InsTI – Dona Chiquinha. Homenagem a Francisca Clotilde (e por que não, à minha mãe dona Francisquinha). 

                           Francisca Clotilde - 

Francisca Clotilde - Escritora e Abolicionista: Pioneira no tema “Divórcio” na literatura brasileira. participou da luta que impulsionou a abolição da escravatura no Ceará, 1º Estado brasileiro a libertar os escravos no País.

https://glaucialimavoz.blogspot.com/2013/11/francisca-clotilde-escritora-e.html

Combativa, mãe e mulher, a escritora cearense Francisca Clotilde aventurou-se no século XIX a “Resistir ao invés de existir!” Dona Chiquinha, como era chamada.

“RESISTIR AO INVÉS DE EXISTIR!” Dona Chiquinha


Escritora e Abolicionista: Pioneira no tema “Divórcio” na literatura brasileira

Francisca Clotilde participou da luta que impulsionou a abolição da escravatura no Ceará, 1º Estado brasileiro a libertar os escravos no País.

Francisca Clotilde - Dona Chiquinha

https://glaucialimavoz.blogspot.com/2013/11/francisca-clotilde-escritora-e.html

Combativa, mãe e mulher, a escritora cearense Francisca Clotilde aventurou-se no século XIX a “Resistir ao invés de existir!” Dona Chiquinha, como era chamada.

 

Chiquinha Gonzaga - Primeira mulher a reger uma orquestra no Brasil. *17/10/1847 - †28/02/1935, também foi a primeira chorona, primeira pianista de choro, autora da primeira marcha carnavalesca com letra ("Ô Abre Alas", 1899).

Chiquinha Gonzaga lutou pelos direitos autorais. É fundadora, sócia e patrona da SBAT - Sociedade Brasileira de Autores Teatrais, ocupando a cadeira nº 1

Chiquinha Gonzaga -


Parabéns, Trairi! 👏😍 


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