"Será sempre em paz, com liberdade e democracia que vamos continuar construindo juntos este nosso grande país." Dilma
Presidenta Dilma Rousseff e Frei Leonardo Boff |
"Não podemos colocar em risco tudo o que conquistamos. Temos muita coisa a perder. Não foi fácil chegar onde chegamos e não será fácil chegar onde se deseja” — disse a Presidente Dilma ao lembrar os tempos difíceis quando lutou contra a ditadura militar."
Antes de ver e ler o
pronunciamento da Presidente Dilma, neste último 21 de junho, propomos uma, digamos,
releitura deste artigo do Teólogo, Escritor e Filósofo Frei Leonardo Boff,
divulgado logo após a vitória de Dilma Rousseff nas eleições presidenciais
brasileiras em 2010.
O Amor Vence o Terror
“Dilma Rousseff marcará seu governo com identidade própria se realizar mais fortemente a agenda que elegeu Lula: a ética e as reformas estruturais.” Profetizava o Frei em novembro de 2010 sobre eleição ganha por Dilma.
“Lula incluiu socialmente
uma França inteira dentro de uma situação de decência.” Leonardo Boff
“Celebramos alegremente a vitória de Dilma Rousseff.” Leonardo Boff
Celebramos alegremente a vitória de Dilma Rousseff. E não deixamos de
folgar também pela derrota de José Serra que não mereceu ganhar esta eleição
dado o nivel indecente de sua campanha, embora os excessos tenham ocorrido nos
dois lados. Os bispos conservadores que, à revelia da CNBB, se colocaram fora do
jogo democrático e que manipularam a questão da descriminalização do aborto,
mobilizando até o Papa em Roma, bem como os pastores evangélicos raivosamente
partidizados, saíram desmoralizados.
Post festum, cabe uma reflexão distanciada do que poderá ser o governo
de Dilma Rousseff. Esposamos a tese daqueles analistas que viram no governo
Lula uma transição de paradigma: de um Estado privatizante, inspirado nos
dogmas neoliberais para um Estado republicano que colocou o social em seu
centro para atender as demandas da população mais destituída. Toda transição
possui um lado de continuidade e outro de ruptura. A continuidade foi a
manutenção do projeto macroeconômico para fornecer a base para a estabilidade
política e exorcizar os fantasmas do sistema. E a ruptura foi a inauguração de
substantivas políticas sociais destinadas à integração de milhões de
brasileiros pobres, bem representadas pela Bolsa Família entre outras.
Não se pode negar que, em parte, esta transição ocorreu pois, efetivamente, Lula incluiu socialmente uma França inteira dentro de uma situação de decência. Mas desde o começo, analistas apontavam a inadequação entre projeto econômico e o projeto social. Enquanto aquele recebe do Estado alguns bilhões de reais por ano, em forma de juros, este, o social, tem que se contentar com bem menos.
Não obstante esta disparidade, o fosso entre ricos e pobres diminuiu o que granjeou para Lula extraordinária aceitação.
Não se pode negar que, em parte, esta transição ocorreu pois, efetivamente, Lula incluiu socialmente uma França inteira dentro de uma situação de decência. Mas desde o começo, analistas apontavam a inadequação entre projeto econômico e o projeto social. Enquanto aquele recebe do Estado alguns bilhões de reais por ano, em forma de juros, este, o social, tem que se contentar com bem menos.
Não obstante esta disparidade, o fosso entre ricos e pobres diminuiu o que granjeou para Lula extraordinária aceitação.
Agora se coloca a questão: a Presidente aprofundará a transição,
deslocando o acento em favor do social onde estão as maiorias ou manterá a
equação que preserva o econômico, de viés monetarista, com as contradições
denunciadas pelos movimentos sociais e pelo melhor da inteligencia brasileira?
Estimo que, Dilma deu sinais de que vai se vergar para o lado do
social-popular. Mas alguns problemas novos como aquecimento global devem ser
impreterivelmente enfrentados. Vejo que a novel Presidente compreendeu a
relevância da agenda ambiental, introduzida pela candidata Marina Silva. O PAC
(Projeto de Aceleração do Crescimento) deve incorporar a nova consciência de
que não seria responsável continuar as obras desconsiderando estes novos dados.
E ainda no horizonte se anuncia nova crise econômica, pois os EUA resolveram
exportar sua crise, desvalorizando o dólar e nos prejudicando sensivelmente.
Dilma Rousseff marcará seu governo com identidade própria se realizar
mais fortemente a agenda que elegeu Lula: a ética e as reformas estruturais. A
ética somente será resgatada se houver total transparência nas práticas
políticas e não se repita a mercantilização das relações partidárias
(“mensalão”).
As reformas estruturais é a dívida que o governo Lula nos deixou. Não
teve condições, por falta de base parlamentar segura, de fazer nenhuma das
reformas prometidas: a política, a fiscal e a agrária. Se quiser resgatar o
perfil originário do PT, Dilma deverá implementar uma reforma política. Será difícil devido os interesses corporativos dos partidos, em grande parte,
vazios de ideologia e famintos de benefícios. A reforma fiscal deve estabelecer
uma equidade mínima entre os contribuintes, pois até agora poupava os ricos e
onerava pesadamente os assalariados. A reforma agrária não é satisfeita apenas
com assentamentos. Deve ser integral e popular levando democracia para o campo
e aliviando a favelização das cidades.
Estimo que o mais importante é o salto de consciência que a Presidente
deve dar, caso tomar a sério as consequências funestas e até letais da situação
mudada da Terra em crise sócio-ecológica. O Brasil será chave na adaptação e no
mitigamento pelo fato de deter os principais fatores ecológicos que podem
equilibrar o sistema-Terra. Ele poderá ser a primeira potência mundial nos
trópicos, não imperial mas cordial e corresponsável pelo destino comum. Esse
pacote de questões constitui um desafio da maior gravidade, que a novel
Presidente irá enfrentar. Ela possui competência e coragem para estar à altura
destes reptos. Que não lhe falte a iluminação e a força do Espírito Criador.
Escrito por Leonardo Boff.
“Temos que aproveitar o vigor das manifestações para produzir mais mudanças”, afirma Dilma.
Integra do Pronunciamento da Presidenta Dilma
Minhas
amigas e meus amigos,
Todos nós,
brasileiras e brasileiros, estamos acompanhando, com muita atenção, as
manifestações que ocorrem no país. Elas mostram a força de nossa democracia e o
desejo da juventude de fazer o Brasil avançar.
Se
aproveitarmos bem o impulso desta nova energia política, poderemos fazer,
melhor e mais rápido, muita coisa que o Brasil ainda não conseguiu realizar por
causa de limitações políticas e econômicas. Mas, se deixarmos que a violência
nos faça perder o rumo, estaremos não apenas desperdiçando uma grande
oportunidade histórica, como também correndo o risco de colocar muita coisa a
perder.
Como
presidenta, eu tenho a obrigação tanto de ouvir a voz das ruas, como dialogar
com todos os segmentos, mas tudo dentro dos primados da lei e da ordem,
indispensáveis para a democracia.
O Brasil
lutou muito para se tornar um país democrático. E também está lutando muito
para se tornar um país mais justo. Não foi fácil chegar onde chegamos, como
também não é fácil chegar onde desejam muitos dos que foram às ruas. Só
tornaremos isso realidade se fortalecermos a democracia – o poder cidadão e os
poderes da República.
Os
manifestantes têm o direito e a liberdade de questionar e criticar tudo, de
propor e exigir mudanças, de lutar por mais qualidade de vida, de defender com
paixão suas ideias e propostas, mas precisam fazer isso de forma pacífica e
ordeira.
O governo e
a sociedade não podem aceitar que uma minoria violenta e autoritária destrua o
patrimônio público e privado, ataque templos, incendeie carros, apedreje ônibus
e tente levar o caos aos nossos principais centros urbanos. Essa violência,
promovida por uma pequena minoria, não pode manchar um movimento pacífico e
democrático. Não podemos conviver com essa violência que envergonha o Brasil.
Todas as instituições e os órgãos da Segurança Pública têm o dever de coibir,
dentro dos limites da lei, toda forma de violência e vandalismo.
Com
equilíbrio e serenidade, porém, com firmeza, vamos continuar garantindo o
direito e a liberdade de todos. Asseguro a vocês: vamos manter a ordem.
Brasileiras
e brasileiros,
As
manifestações dessa semana trouxeram importantes lições: as tarifas baixaram e
as pautas dos manifestantes ganharam prioridade nacional. Temos que aproveitar
o vigor destas manifestações para produzir mais mudanças, mudanças que
beneficiem o conjunto da população brasileira.
A minha
geração lutou muito para que a voz das ruas fosse ouvida. Muitos foram
perseguidos, torturados e morreram por isso. A voz das ruas precisa ser ouvida
e respeitada, e ela não pode ser confundida com o barulho e a truculência de
alguns arruaceiros.
Sou a
presidenta de todos os brasileiros, dos que se manifestam e dos que não se
manifestam. A mensagem direta das ruas é pacífica e democrática.
Ela
reivindica um combate sistemático à corrupção e ao desvio de recursos públicos.
Todos me conhecem. Disso eu não abro mão.
Esta
mensagem exige serviços públicos de mais qualidade. Ela quer escolas de
qualidade; ela quer atendimento de saúde de qualidade; ela quer um transporte
público melhor e a preço justo; ela quer mais segurança. Ela quer mais. E para
dar mais, as instituições e os governos devem mudar.
Irei
conversar, nos próximos dias, com os chefes dos outros poderes para somarmos
esforços. Vou convidar os governadores e os prefeitos das principais cidades do
país para um grande pacto em torno da melhoria dos serviços públicos.
O foco
será: primeiro, a elaboração do Plano Nacional de Mobilidade Urbana, que
privilegie o transporte coletivo. Segundo, a destinação de cem por cento dos
recursos do petróleo para a educação. Terceiro, trazer de imediato milhares de
médicos do exterior para ampliar o atendimento do Sistema Único de Saúde, o
SUS.
Anuncio que
vou receber os líderes das manifestações pacíficas, os representantes das
organizações de jovens, das entidades sindicais, dos movimentos de
trabalhadores, das associações populares. Precisamos de suas contribuições,
reflexões e experiências, de sua energia e criatividade, de sua aposta no
futuro e de sua capacidade de questionar erros do passado e do presente.
Brasileiras
e brasileiros,
Precisamos
oxigenar o nosso sistema político. Encontrar mecanismos que tornem nossas
instituições mais transparentes, mais resistentes aos malfeitos e, acima de
tudo, mais permeáveis à influência da sociedade. É a cidadania, e não o poder
econômico, quem deve ser ouvido em primeiro lugar.
Quero
contribuir para a construção de uma ampla e profunda reforma política, que
amplie a participação popular. É um equívoco achar que qualquer país possa
prescindir de partidos e, sobretudo, do voto popular, base de qualquer processo
democrático.
Temos de
fazer um esforço para que o cidadão tenha mecanismos de controle mais
abrangentes sobre os seus representantes.
Precisamos
muito, mas muito mesmo, de formas mais eficazes de combate à corrupção. A Lei
de Acesso à Informação, sancionada no meu governo, deve ser ampliada para todos
os poderes da República e instâncias federativas. Ela é um poderoso instrumento
do cidadão para fiscalizar o uso correto do dinheiro público. Aliás, a melhor
forma de combater a corrupção é com transparência e rigor.
Em relação
à Copa, quero esclarecer que o dinheiro do governo federal, gasto com as arenas
é fruto de financiamento que será devidamente pago pelas empresas e os governos
que estão explorando estes estádios. Jamais permitiria que esses recursos
saíssem do orçamento público federal, prejudicando setores prioritários como a
Saúde e a Educação.
Na
realidade, nós ampliamos bastante os gastos com Saúde e Educação, e vamos
ampliar cada vez mais. Confio que o Congresso Nacional aprovará o projeto que
apresentei para que todos os royalties do petróleo sejam gastos exclusivamente
com a Educação.
Não posso
deixar de mencionar um tema muito importante, que tem a ver com a nossa alma e
o nosso jeito de ser. O Brasil, único país que participou de todas as Copas,
cinco vezes campeão mundial, sempre foi muito bem recebido em toda parte.
Precisamos dar aos nossos povos irmãos a mesma acolhida generosa que recebemos
deles. Respeito, carinho e alegria, é assim que devemos tratar os nossos
hóspedes. O futebol e o esporte são símbolos de paz e convivência pacífica
entre os povos. O Brasil merece e vai fazer uma grande Copa.
Minhas
amigas e meus amigos,
Eu quero
repetir que o meu governo está ouvindo as vozes democráticas que pedem mudança.
Eu quero dizer a vocês que foram pacificamente às ruas: eu estou ouvindo vocês!
E não vou transigir com a violência e a arruaça.
Será sempre
em paz, com liberdade e democracia que vamos continuar construindo juntos este
nosso grande país.
Boa noite!
O Amor Vence o Terror
O Amor Vence o Terror
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