"Liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta, não há ninguém que explique e ninguém que não entenda.” Cecília Meireles
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escritora carioca Cecília Meireles, nasceu na cidade do Rio de Janeiro em
07/11/1901, apareceu no meio literário em 1919 com o livro de poemas Espectros. Faleceu em 09/11/1964,
dois dias depois de completar 63 anos.
O conto “Liberdade” é do livro de contos “Escolha o seu sonho”.
“Deve existir nos homens um sentimento profundo que corresponde a essa palavra LIBERDADE, pois sobre ela se têm escrito poemas e hinos, a ela se tem até morrido com alegria e felicidade.
Diz-se que o homem nasceu livre, que a liberdade de cada um
acaba onde começa a liberdade de outrem; que onde não há liberdade não há
pátria; que a morte é preferível à falta de liberdade; que renunciar à
liberdade é renunciar à própria condição humana; que a liberdade é o maior bem
do mundo; que a liberdade é o oposto à fatalidade e à escravidão; nossos
bisavós gritavam “Liberdade, Igualdade e Fraternidade!”. Nossos avós cantaram:
“Ou ficar a Pátria livre ou morrer pelo Brasil!”; nossos pais pediam:
“Liberdade! Liberdade! – abre as asas sobre nós”, e nós recordamos todos os
dias que “o sol da liberdade em raios fúlgidos – brilhou no céu da Pátria…” –
em certo instante.
Somos, pois criaturas nutridas de liberdade há muito tempo, com
disposições de cantá-la, amá-la, combater e certamente morrer por ela.
Ser livre – como diria o famoso conselheiro… – é não ser
escravo; é agir segundo a nossa cabeça e o nosso coração, mesmo tendo que
partir esse coração e essa cabeça para encontrar um caminho… Enfim, ser livre é
ser responsável, é repudiar a condição de autônomo e de teleguiado – é
proclamar o triunfo luminoso do espírito. (Supondo que seja isso.)
Ser livre é ir mais além: é buscar outro espaço, outras
dimensões, é ampliar a órbita da vida. É não estar acorrentado. É não viver
obrigatoriamente entre quatro paredes.
Por isso, os meninos atiram pedras e soltam papagaios. A pedra
inocentemente vai até onde o sono das crianças deseja ir. (Às vezes, é certo,
quebra alguma coisa, no seu percurso…).
Os papagaios vão pelos ares até onde os meninos de outrora
(muito de outrora!…) não acreditavam que se pudesse chegar tão simplesmente,
com um fio de linha e um pouco de vento!…
Acontece, porém, que um menino, para empinar um papagaio,
esqueceu-se da fatalidade dos fios elétricos e perdeu a vida.
E os loucos que sonharam sair de seus pavilhões, usando a
fórmula do incêndio para chegarem à liberdade, morreram queimados, com o mapa
da Liberdade nas mãos!…
São essas coisas tristes que contornam sombriamente aquele
sentimento luminoso da LIBERDADE. Para alcançá-la estamos todos os dias
expostos à morte. E os tímidos preferem ficar onde estão, preferem mesmo
prender melhor suas correntes e não pensar em assunto tão ingrato.
Mas os sonhadores vão para a frente, soltando seus papagaios,
morrendo nos seus incêndios, como as crianças e os loucos. E cantando aqueles
hinos que falam de asas, de raios fúlgidos – linguagem de seus antepassados,
estranha linguagem humana, nestes andaimes dos construtores de Babel…”
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