segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Erradicar a prática do tabagismo em ambientes públicos fechados: eis a questão


Luca Vianni*

O hábito de fumar é tão antigo quanto a humanidade. Adquiriu grande prestígio no Ocidente durante longo período no século XX. Por décadas, o consumo do cigarro, charuto ou cachimbo conheceu grande esplendor na boca e mãos de atores e atrizes famosos e, certamente por isso, teve glamour garantido exercendo indiscutível fascínio sobre plateias ávidas para imitar hábitos e até cacoetes dos grandes astros hollywoodianos. Desde o início do cinema falado, a indústria do tabaco percebeu ali o filão para auferir lucros consideráveis. Aliou-se então às grandes produtoras cinematográficas americanas fazendo com que os ídolos da sétima arte fossem mostrados frequentemente nas cenas mais decisivas dos enredos sempre com um cigarro ou mesmo um charuto à boca. O hábito foi visto nos velhos westerns, passou por grandes épicos e dramalhões e desembocou nos mais diversos seriados policiais ou de qualquer outro gênero. Galãs e suas partners de todos os matizes eram invariavelmente apresentados ao grande público exercitando o glamouroso hábito de fumar. O gesto exerceu incontestável influência sobre expressivas plateias nos mais variados setores sociais e se disseminou de tal modo que as vendas e o consumo do tabaco tiveram curva vertiginosamente ascendente por todo o planeta. Fumar tornou-se cult! Era elegante fumar! Raríssimo era encontrar alguém que não tivesse seu cigarrinho no bolso ou na boca. Porém, ai porém, como tudo na vida tem preço, o hábito de fumar também revelou para os fumantes, de modo inexorável, o outro lado da moeda. O que dá pra rir dá pra chorar.
A fumaça aspirada pelo indivíduo também exerce sobre o organismo sua ação deletéria implacável e irreversível. As mais de 4700 substâncias químicas (chumbinho pra matar rato, querosene, solvente, alcatrão, etc) adicionadas ao fumo contido em apenas um cigarro - e absorvidas a cada tragada - vão se alojar no interior de todo o sistema respiratório fixando-se preferencialmente sobre os alvéolos pulmonares, brônquios e demais órgãos do sistema, afetando ainda sobremodo órgãos como a boca, a língua e os dentes. Raro não se ver um fumante ou uma fumante que não tenha os dentes escurecidos pelo acúmulo de nicotina - um dos ingredientes nocivos do cigarro, causador-mor de uma indesejável halitose. Ressalte-se, um dos males menores do hábito de fumar. Porque quando o costume avança para o quadro da dependência tabagista, a qualidade de vida do indivíduo já sofreu danos irreparáveis devido à saúde ter sido profundamente abalada quando se constatam doenças como a tuberculose, o enfisema pulmonar ou o câncer de pulmão, males cuja reversibilidade é impossível - principalmente quando identificados em estágio avançado de desenvolvimento. Mais grave nessa história é que os mesmos efeitos deletérios do hábito de fumar também atingem com a mesma força agressiva pessoas que nunca fumaram, mas que simplesmente convivem com fumantes. Essas vítimas involuntárias são os chamados fumantes passivos, os quais, em muitos casos comprovados cientificamente, acabam pagando o altíssimo preço de adquirir doenças incuráveis e, na maioria das vezes, letais.   

É por essas e outras que os frequentadores do tradicional e venerando barzinho, bebedores compulsivos e amantes inveterados do bom papo e da boa companhia, da música de qualidade e defensores incondicionais da vida saudável - além de sabedores dos efeitos danosos seguidos dos malefícios proporcionados pelo vício tabagista, sugerem fraterna e democraticamente aos ilustres senhorios desses sacrossantos lugares que recebam seus frequentadores como num oráculo: com alegria e bom humor em ambiente asséptico, incondicionalmente livre da nocividade do tabaco e congêneres.  O incômodo sempre presente causado pelo uso do cigarro em bares, restaurantes e assemelhados é o grande inconveniente para os demais frequentadores que, diga-se a bem da verdade, são atualmente bem mais numerosos e sempre dispostos a gastar mais.
Bares, restaurantes e similares, indistintamente, deveriam estar isentos das mazelas do consumo mórbido do tabaco em todas as suas modalidades e acolher seus habitués de braços e coração plenos de saúde e satisfação. Como é para o bem de todos os amantes etílicos da boa vida e felicidade geral da intrépida nação notívaga, sempre disposta a transfundir significativas somas pecuniárias em favor dos seus anfitriões e crupiês, que doravante se declare o barzinho TERRITÓRIO DEFINITIVAMENTE LIVRE DO TABACO!!!

*Jornalista e Acadêmico de Farmácia na UFC (Universidade Federal do Ceará)


31 de maio - Dia Mundial Sem Tabaco
Tabagismo
O tabagismo é considerado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) a principal causa de morte evitável no mundo. A organização estima que um terço da população mundial adulta, isto é, cerca de 1 bilhão e 200 milhões de pessoas, sejam fumantes. Pesquisas comprovam que aproximadamente 47% de toda a população masculina mundial e 12% da feminina fumam.
Divulgação/Ministério da Saúde Ampliar
  • Maço de cigarro carrega mensagem alertando sobre os riscos para quem fuma
A fumaça do cigarro tem mais de 4,7 mil substâncias tóxicas. O alcatrão, por exemplo, é composto de mais de 40 compostos cancerígenos. Já o monóxido de carbono (CO) em contato com a hemoglobina do sangue dificulta a oxigenação e, consequentemente, ao privar alguns órgãos do oxigênio causa doenças como a aterosclerose (que obstrui os vasos sanguíneos). A nicotina é considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) droga psicoativa que causa dependência. Ela também aumenta a liberação de catecolaminas, que contraem os vasos sanguíneos, aceleram a freqüência cardíaca, causando hipertensão arterial.
O tabagismo está relacionado a mais de 50 doenças sendo responsável por 30% das mortes por câncer de boca, 90% das mortes por câncer de pulmão, 25% das mortes por doença do coração, 85% das mortes por bronquite e enfisema, 25% das mortes por derrame cerebral. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), todo ano cinco milhões de pessoas morrem no mundo por causa do cigarro. E, em 20 anos, esse número chegará a 10 milhões se o consumo de produtos como cigarros, charutos e cachimbos continuar aumentando.
Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), o tabaco também tem relação com a impotência sexual e infertilidade masculina pois, segundo estudos, prejudica a mobilidade do espermatozóide. Os mesmos prejuízos também são atribuídos ao cachimbo e ao charuto. Apesar de não serem tragáveis, possuem uma concentração de nicotina maior, que é absorvida pela mucosa oral.
Não só o fumo ativo, mas o passivo também aumenta os riscos de doença. Sete não fumantes morrem por dia em consequência do fumo passivo. O tabagismo passivo aumenta em 30% o risco para câncer de pulmão e 24% o risco para infarto.
Tratamentos e benefícios
Os tratamentos mais eficazes unem apoio medicamentoso com mudanças de hábitos. A combinação é importante porque o tabaco causa dependência física, psicológica e comportamental, veja os detalhes:
Física: Cada tragada tem 4.730 substâncias e, com o tempo, o corpo do fumante passa a precisar do cigarro para funcionar. Quando se tira essas substâncias, particularmente a nicotina, o corpo vive uma espécie de curto-circuito e entra em síndrome de abstinência. Os principais sintomas são ansiedade, inquietação, sonolência ou insônia, e prisão de ventre.
Psicológica: O cigarro torna-se uma “bengala” para o viciado, que passa a fumar mais quando está estressado, triste e se sentindo sozinho.
Comportamental: O fumante tem uma rotina com o cigarro. Há momentos em que o fumar é um hábito automático. Depois da refeição, com o cafezinho, após ir ao banheiro, etc.
Especialistas aconselham as pessoas a marcar uma data para largar o vício. Há dois métodos para parar de fumar: imediatamente ou gradualmente. O método mais adequado é a parada imediata, no qual você marca uma data e, a partir desse dia, não fuma mais nenhum cigarro. Esta deve ser sempre sua primeira opção. Outra alternativa é parar gradualmente, reduzindo o número de cigarros ou retardando a hora do primeiro cigarro do dia. Mas você não deve gastar mais de duas semanas, pois pode se tornar uma forma de adiar, e não de parar de fumar.
Para reduzir o número de cigarros, diminua um pouco a cada dia. Por exemplo, uma pessoa que fuma 30 cigarros por dia, no primeiro dia fuma os 30 cigarros usuais, no segundo dia 25, no terceiro 20, no quarto 15, no quinto 10 e no sexto fuma apenas 5 cigarros. O sétimo dia é a data para deixar de fumar e o primeiro dia sem cigarros.
Ao retardar a hora do primeiro cigarro, o fumante deve proceder com o mesmo método gradual. Por exemplo, no primeiro dia você começa a fumar às 9h, no segundo às 11h, no terceiro às 13h, no quarto às 15h, no quinto às 17h e no sexto às 19 h. O sétimo dia é a data para deixar de fumar e o primeiro dia sem cigarros.
Lembre-se também que fumar cigarros de baixos teores não é uma boa alternativa. Todos os tipos de derivados do tabaco (cigarros, charutos, cachimbos, cigarros de Bali, etc.) fazem mal à saúde. Cuidado com os métodos milagrosos para deixar de fumar. Caso não consiga parar de fumar sozinho, procure orientação médica.
Para obter informações sobre tabagismo consulte o site do Instituto Nacional de Câncer (Inca) [http://www1.inca.gov.br/tabagismo/], órgão do Ministério da Saúde responsável por coordenar e executar o Programa de Controle do Tabagismo no Brasil.
Ou ligue no Disque Saúde (0800-611997).

Leis Antifumo pelo Brasil
Desde 1996, o Brasil conta com uma lei federal número 9.294 que restringe o uso – e também a propaganda – de produtos derivados de tabaco em locais coletivos, públicos ou privados, com exceção às áreas destinadas para seu consumo, desde que isoladas e ventiladas (também conhecidos como fumódromos).
Porém, com o objetivo de se aproximar mais do artigo 8 da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco, tratado internacional elaborado pela Organização Mundial da Saúde e do qual o Brasil é signatário, estados e municípios têm elaborados leis que eliminam a presença dos fumódromos e proíbem o consumo de cigarros, charutos, cachimbos e cigarrilhas em bares, restaurantes, casas noturnas, escolas, áreas comuns de condomínios e hotéis, supermercados, shoppings etc.
A fiscalização, aliada à aplicação de multas (previstas em lei) aos estabelecimentos e à adesão da população, tem feito com que as leis sejam, de fato, respeitadas.
Por enquanto, sete estados possuem leis que deixam o ambiente 100% livre da fumaça do cigarro: Amazonas, Paraíba, Paraná, Rio de Janeiro, Rondônia, Roraima e São Paulo. Nestes estados, além de restringir o uso em ambientes coletivos fechados, é vedada a criação de fumódromos dentro dos estabelecimentos. Acre, Piauí e Rio Grande do Norte esperam se juntar a este grupo: desde 2009 tramitam em suas Assembleias Legislativas projetos de lei para a criação de ambientes livres do tabaco.
Em comum, as legislações estaduais têm: a proibição do fumo em locais fechados, a atuação de agentes fiscalizadores, a possibilidade de a população denunciar estabelecimentos em que a lei não é aplicada, e a liberdade que os donos ou responsáveis por tais lugares têm de expulsar quem não segue a legislação (vale lembrar que são eles quem pagam a multa e podem ter seus negócios fechados).
Além dos Estados já citados, outros 15 mais o Distrito Federal possuem leis específicas para proibição ao fumo em locais fechados. A diferença é que nestas regiões é permitida a criação de fumódromos. O Amapá é a única unidade da Federação que não possui legislação antitabaco.
Algumas cidades do País também possuem leis próprias que proíbem o uso do cigarro em ambientes fechados. Parte delas foi criada antes das leis estaduais. Belo Horizonte, por exemplo, proíbe o cigarro (mas permite fumódromos) desde 1995 enquanto a lei válida para todo o Estado de Minas Gerais só entrou em vigor em 2010.
Estados com leis antitabaco, sem fumódromo
Amazonas
Paraíba
Paraná
Rio de Janeiro
Rondônia
Roraima
São Paulo
Estados com leis antitabaco, mas que permitem fumódromo
Alagoas
Bahia
Ceará
Distrito Federal
Espírito Santo
Goiás
Maranhão
Mato Grosso
Mato Grosso do Sul
Minas Gerais
Pernambuco
Pará
Rio Grande do Sul
Santa Catarina
Sergipe
Tocantins
Estados com projetos de lei antitabaco em tramitação
Acre
Rio Grande do Norte
Piauí
Estado sem legislação antitabaco
Amapá

Um comentário:

  1. Convidamos os companheiros e companheiras leitores e leitoras a cerrar fileiras em defesa da saúde, contribuindo de forma efetiva nessa luta sem trégua pela erradicação do hábito tabagista. E que os nossos anfitriões se sensibilizem positivamente com essa ideia e sejam nossos parceiros incondicionais - o que, com certeza, só fará crescer seus cofrinhos, botijas e baús cifronados!!!!... Amém!!

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