sábado, 15 de setembro de 2012

Trairi, o rio das traíras

 Lucas Jr.*
A história de Trairi, denominação de origem Tupuia-Tupi, onde viviam índios anacés e tremembés, confunde-se com a jornada de Martim Soares Moreno, o fundador do Ceará, nas terras de José de Alencar.  
CAMPOSCARMINHA  (*)

Localizado no nordeste do Estado, a 118 km de Fortaleza (CE), Trairi carrega as lembranças das lutas entre índios, portugueses e franceses, remontando ao início da colonização cearense, a partir da famosa expedição do açoriano Pero Coelho, em 1603. Entre soldados, silvícolas e a própria família de Coelho, estava o jovem Soares Moreno, sobrinho

do sargento-mor Diogo de Campos, vindo de batalhas vitoriosas no Rio Grande do Norte e notável conhecedor dos dialetos indígenas.


A história de Trairi, denominação de origem Tupuia-Tupi, onde viviam índios anacés e tremembés, confunde-se com a jornada de Martim Soares Moreno, o fundador do Ceará, nas terras de José de Alencar. 

Capela de Guageru reformada em pagamento à promessa de Maria Furtado de Mendonça (*)
Passando pelos arredores de Icapuí (CE), o destemido português conheceu o líder potiguara Jacaúna, com quem conquistou a costa cearense, fundando Fortaleza, prendendo e expulsando franceses e holandeses. Mas, devido às contrariedades das correntezas marítimas, seu maior desafio foi descobrir uma rota rumo ao Maranhão, este dominado pela França. A solução seria subir a Serra de Ibiapaba, na divisa com o Piauí. Com Pero Coelho, usou o Rio Trairi – ou o Rio Mundaú, ambos dentro do município, para alcançar a Serra de Uruburetama, nos seus nascedouros, e em seguida os rios Aracatiaçu e Acaraú até as proximidades da almejada serra, numa série de batalhas contra tribos guerreiras dos sertões cearenses.

Coqueiral, velas e barcos embelezam a paisagem da praia de Mundaú (*)
Em seu famoso romance Iracema, fictício segundo a crítica literária, José de Alencar narra a paixão de Moreno por uma índia tabajara de Ibiapaba, Iracema, com quem fugiu para o litoral, onde viveu na comunidade de Jacaúna. Segundo a historiadora trairiense Maria Pia de Sales, que teve contatos com descendentes de primitivos da região, o fato teria sido verídico em Trairi, na época Parazinho, que mais tarde passou a chamar-se Alto Alegre, hoje Paracuru, município vizinho ao qual era incorporado.

Na concepção de Maria Pia, os índios locais, mansos, receberam os irmãos de Jacaúna, confundindo a pronúncia “potiguara”, prevalecendo a denominação “pitiguara”, conhecidos então como os “índios de Trairi” a despeito dos historiadores cearenses, que reforçam apenas os tremembés e anacés.
Pier e calçadão à margem da barra do rio Mundaú são atrações turísticas (*)
Mas foi Tristão de Alencar Araripe, em

História da Província do Ceará (2a edição, Insituto do Ceará, 1958), quem colocou Trairi no ápice da história do Estado.

Nas muitas barracas, a culinária cearense é uma das opções (*)
Segundo ele, teria sido Américo Vespúcio o primeiro navegador a avistar as terras cearenses, em 18 de agosto de 1501, quando fazia viagem para a Coroa Portuguesa após a chegada de Cabral. Seu povoamento pelo homem branco iniciou-se no Século XVIII a partir de concessões de sesmarias, destacando-se João Verônica, que além de praticar agricultura e pecuária, foi notável mestre de obras, ajudando a erguer as primeiras casas da vila nas proximidades do Rio Trairi. Com ajuda de parentes e de outros, como Xavier de Sousa e de Antonio Barroso de Souza, ergueu a capela de Nossa Senhora dos Remédios. Porém, a história mudou após a chegada de uma mulher.
Durante a viagem que partiu da Europa, uma tempestade abateu sobre o barco de Maria Furtado de Mendonça, uma rica portuguesa devota de Nossa Senhora do Livramento. Após jogar ao mar todos os bens transportados na embarcação e prestes a naufragar, ela se ajoelhou e rezou, prometendo construir uma igreja em homenagem à santa, caso sobrevivesse. Acabou encalhando na Praia de Guageru. Sem noção de onde se encontrava, a tripulação a carregou dunas a dentro em busca de civilização. Até que encontrou os primeiros casebres na vila de Barrinha e, enfim, Trairi a dois quilômetros.
Guageru ainda mantém a tradição da pesca artesanal em currais (*)
Recebeu ajuda da comunidade e combinou de retornar com recursos e cumprir o juramento. Foi o que fez. Não só reformou a capela como deixou riquezas em sua homenagem e comprou terrenos para criação bovina e respectiva renda para a santa. Adquiriu ainda as terras que ficaram conhecidas como Córrego dos Furtados, onde até hoje seus descendentes vivem, mantendo a tradição do culto à Nossa Senhora do Livramento, que chegou a ser a mais querida por toda a microrregião de Itapipoca. O novenário inicia-se nos últimos dias de dezembro, culminando com a concorrida procissão de primeiro de janeiro.
O acesso ao município é pela CE 085, conhecida como estruturante. Por possuir um dos maiores índices pluviométricos do Estado e vasta vegetação, Trairi, segundo município em operações na Agência de Itapipoca (CE), destaca-se como grande produtor de milho, feijão, caju, mandioca
e coco, indústrias de beneficiamentos e potencial turístico.
(*) CAMPOSCARMINHA

As praias de Mundaú e Flexeiras contam com infraestrutura suficiente que fez atrair o setor hoteleiro, daí a valorização imobiliária, incluindo as praias de Emboaca e Guageru, esta considerada a melhor do mundo para a prática de kitesurf. Na sede, destacam-se o coqueiral, a robustez do Rio Trairi e a Lagoa do Criancó, entre vegetação e dunas. Já na divisa com o município de Paraipaba (CE), deslizando pelos morros, a lagoa artificial das Almércegas e suas águas cristalinas propiciam lazer às famílias.

Hotéis em Flexeiras oferecem bom serviço hoteleiro (*) CAMPOSCARMINHA
Assim é Trairi, Rio das Traíras, paraíso que tanto orgulha seu povo. É um convite a quem tem bom gosto e a certeza de que encontrará a paz e a recepção dessa gente que traz no sangue a pureza da simplicidade.


*Joaquim Lucas Júnior
   lucasjunior@bnb.gov.br



o artigo de Lucas Jr., Trairi, o rio das traíras foi publicado pela Revista: Conterrâneos (do ambiente de Comunicação Social do BNB) edição nº26.



(*) Imagens: CAMPOSCARMINHA



2 comentários:

  1. Nada é por acaso!
    Sempre fui crédula da sincronicidade. Jamais desdenhei de sinais que me chegam
    Quando, há cerca de 6 anos, publicamos este artigo do amigo Lucas Jr., não supunha que nossos destinos estariam sendo traçados

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  2. Luca Júnior é Dona Glaucia gosto de ve história do nosso Ceará tô um Pouco ocupado mais Quando mim Desocupado vou da uma lida nessa estória de Trairi história muito bonita tô encantado das beleza de Trairi bom dia Dona Glaucia é Luca Júnior

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