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Gláucia Lima
“Padaria Espiritual: O pão do
espírito para o mundo”
Resultado do movimento “Padaria
Espiritual”, de uma agremiação de jovens literatos, deu-se a Fundação da Academia
Cearense de Letras, 1ª Academia de Letras do País em 1892, antecedendo-se, em
quatro anos, à brasileira ABL, que se deu em 1896. Segundo historiadores e críticos
literários, a Padaria Espiritual foi uma espécie de "prenúncio do Modernismo" e, após 30 anos, da
Semana de Arte Moderna, em 1922.
"Alimentar com pão e espírito
todos os sócios e a população em geral"
Agremiação cultural das mais
importantes de nossa história obteve forte repercussão nacional. Caracterizada
por sempre florescer em torno de grupos literários, a Literatura Cearense
recebe uma significativa contribuição no que diz respeito à arte e à
intelectualidade do século XIX.
O grêmio de intelectuais formado por
escritores, pintores, desenhistas e músicos foi representado por sua
heterogeneidade, não só nas diversas artes, mas também nas diversas ideias e
correntes estéticas em que mergulhou.
Todos os sócios, ou melhor, todos os
"padeiros" assinavam seus textos com pseudônimos, assim Antônio Sales
era Moacir Jurema, Adolfo Caminha era Félix Guanabarino, Lívio Barreto era Lucas
Bizarro e, ao longo de toda a sua jornada, foram 34 autores,cada um com um
pseudo-nome específico.
Seu programa de instalação, formado por
48 artigos, expressavam seu pensamento e objetivos, era divertido e criativo. A
Padaria contou com a ativa participação de Antônio Sales que, com sua veia
publicitária enviou o programa de instalação para os mais renomados escritores
do eixo Rio-São Paulo da época, sempre pedindo a eles adesão na colaboração do
periódico O Pão, uma espécie de jornal que era "impresso", ou melhor,
"amassado" semanalmente pela Padaria. Esta atitude de Sales deu certa
notoriedade ao movimento em todo o país, fazendo do Ceará uma referência
literária nacional.
Os participantes possuíam em seus
títulos a irônica e irreverente nomenclatura hierárquica das padarias reais: o
padeiro-mor (presidente), os forneiros (secretários), o gaveta (tesoureiro), os
padeiros (sócios) e o forno (sede oficial da Padaria).
Muitos historiadores e críticos
literários enxergarem na Padaria Espiritual uma espécie de prenúncio do
Modernismo, que trouxe esta como uma de suas principais preocupações, quase
trinta anos mais tarde, na Semana de Arte Moderna, em 1922.
“Toda a ironia e irreverência da
Padaria se justificavam por seu objetivo primordial: criticar a sociedade
burguesa e as instituições que mantinham seu poderio ideológico, uma vez que os
padeiros eram, em sua maioria, oriundos das camadas média e baixa da população
e se mostravam descontentes com a classe burguesa, dentre outras coisas, por
seu exacerbado apreço pela cultura europeia.”
Muitos historiadores e críticos literários enxergarem na Padaria Espiritual uma espécie de prenúncio do Modernismo, que trouxe esta como uma de suas principais preocupações, quase trinta anos mais tarde, na Semana de Arte Moderna, em 1922.
Sérios ou bem-humorados, os padeiros não perderam, em nenhum momento, a sua ousadia e nem por isso deixaram de fazer poesia. Agraciada por seu humor e identidade próprios, a Padaria existiu durante 6 anos, passando por duas fases: a primeira, de 1892 a 1894, considerada a fase da pilhéria, do humor escrachado; a segunda, de 1894 a 1896 (quando de seu término em dezembro), apesar de mais séria e compenetrada, não fugiu completamente ao seu humor característico.
Juntos, durante seis anos,
representaram o que houve de mais criativo, inovador e significativo para a
cultura cearense.
▲Ednardo - Artigo 26 ▲
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Fiz parte da turma concludente do Curso de Letras da UECE – Universidade
Estadual do Ceará (de 1992.2). Homenageamos o centenário da Padaria Espiritual.
Toda a cerimônia foi alusiva, a turma chamou-se Padaria Espiritual, os convites, patronos etc, com ‘bolachinhas’ e tudo o mais...
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Em Fortaleza, capital cearense
ocorreu a X Bienal
Internacional do Livro do Ceará - “Padaria Espiritual: O pão do
espírito para o mundo” de 8 a
18 de novembro de 2012, em Fortaleza, no Centro de Eventos do Ceará.
resultado do movimento “Padaria Espiritual”, uma agremiação de jovens
literatos, deu-se a Fundação da Academia Cearense de Letras, 1ª Academia de
Letras do País em 1892, antecedendo-se, em quatro anos, à brasileira que se deu
em 1896.
▲Padaria Espiritual / Fortaleza Belle Epoque*
A diversão do fortalezense em fins do século XIX era o Passeio Público: vaivém de moças em saias rodadas, corpetes justos, carmim nas faces e rapazes, na calçada oposta, em fatiotas engomadas, incompletas se não portassem chapéu, colete e lapela em flor.
A crescente circulação de pessoas e negócios na cidade estimulou o aparecimento de famosos cafés na Praça do Ferreira, logo tornando-se uma nova alternativa da sociedade. Nas mesas do Café Java, o primeiro a funcionar, de propriedade de Manuel Pereira dos Santos, tipo mais singular de Fortaleza, o popular Manuel Côco, se encontravam os chamados "bacharéis" - intelectuais de formação universitária - para longos debates sobre letras, entre eles Antônio Sales, Ulisses Batista, Tibúrcio de Freitas, Álvaro Martins, Temístocles Machado e Lopes Filho. Nestes encontros transparecia a insatisfação geral quanto ao marasmo literário em que a cidade se encontrava, resultando na criação da Padaria Espiritual, agremiação literária mais importante de Fortaleza, fundada por Leonardo Mota.
Por ocasião das reuniões da Padaria, Mané Coco obsequiava seus amigos intelectuais com aluá e, às vezes, empinava enorme balão em que se lia o dístico "Padaria Espiritual". E então Mané Coco, de fraque e sem gravata, explicava aos basbaques circunstantes que o seu aerostato, subindo ao céu, ia dizer ao Reino da Glória p'ra quanto prestava a gloriosa "Padaria Espiritual do Ceará".
A Instalação da Padaria Espiritual, entretanto, se deu no número 105 da Rua Formosa (atual Barão do Rio Branco) e não no Café Java, como muitos podem pensar. Antônio Sales escreveu o Programa de Instalação, que acabou sendo transcrito em um jornal do Rio de Janeiro, o que deu grande status ao movimento. Seu lema era "alimentar com pão o espírito dos sócios e da população em geral".
Os títulos nessa academia seguiam o padrão usado nas padarias reais:
Forno: a sede do movimento
Padeiro-mor: o presidente
Forneiros: os secretários
Gaveta: tesoureiro
Investigador das cousas e das gentes: bibliotecário
Amassadores: sócios
Amassado a cada domingo, um jornalzinho de oito páginas intitulado O Pão circulou seus 36 irreverentes números até se finar, segundo dizia seu padeiro-mor, Antônio Sales, de "caquexia pecuniária". Na foto abaixo temos o encarte com a primeira edição do jornal criado pela Padaria Espiritual, em 1892. O Programa de Instalação não permitia que se usassem, em quaisquer publicações, palavras estrangeiras ou animais que não os nativos do Brasil, numa postura radicalmente nacionalista. A importância do movimento se deu pelo fato dele haver proporcionado a consolidação do Realismo e o nascimento do Simbolismo no Ceará.
No período de funcionamento do Forno, juntamente com o periódico O Pão, foram lançadas importantes publicações e alguns livros de grande importância para a literatura brasileira como: Phatos (1893) de Lopes Filho Marinhas (1897) de Antônio de Castro Flocos (1894) de Sabino Batista Contos do Ceará (1894) de Eduardo Sabóia Cromos (1895) de X. de Castro Trovas do Norte (1895) de Antônio Sales Os Brilhantes (1895) de Rodolfo Teófilo Dolentes (1897) de Lívia Barreto Maria Rita (1897) de Rodolfo Teófilo Perfis Sertanejos (1897) de José Carvalho Em dezembro de 1898, depois de 6 anos de funcionamento, a Padaria "fecha". Nessa atmosfera fervilhante e paralelamente ao movimento da Padaria Espiritual, acontece a fundação da Academia Cearense de Letras, em 15 de agosto de 1896, quando, mais uma vez, os intelectuais locais valorizam-se com seu movimento de vanguarda, já que esta foi a primeira academia de letras do país, surgindo mesmo antes da própria Academia Brasileira de Letras. Em 1992, em comemoração ao centenário da Padaria Espiritual, outro grupo de escritores, artistas plásticos, músicos e amantes da arte em geral pôs a mão na massa e O Pão tornou a circular, como o seu ilustre antepassado, distribuindo os biscoitos finos da imaginação. (*Do site Acervo Ceará Cultural)
A crescente circulação de pessoas e negócios na cidade estimulou o aparecimento de famosos cafés na Praça do Ferreira, logo tornando-se uma nova alternativa da sociedade. Nas mesas do Café Java, o primeiro a funcionar, de propriedade de Manuel Pereira dos Santos, tipo mais singular de Fortaleza, o popular Manuel Côco, se encontravam os chamados "bacharéis" - intelectuais de formação universitária - para longos debates sobre letras, entre eles Antônio Sales, Ulisses Batista, Tibúrcio de Freitas, Álvaro Martins, Temístocles Machado e Lopes Filho. Nestes encontros transparecia a insatisfação geral quanto ao marasmo literário em que a cidade se encontrava, resultando na criação da Padaria Espiritual, agremiação literária mais importante de Fortaleza, fundada por Leonardo Mota.
Por ocasião das reuniões da Padaria, Mané Coco obsequiava seus amigos intelectuais com aluá e, às vezes, empinava enorme balão em que se lia o dístico "Padaria Espiritual". E então Mané Coco, de fraque e sem gravata, explicava aos basbaques circunstantes que o seu aerostato, subindo ao céu, ia dizer ao Reino da Glória p'ra quanto prestava a gloriosa "Padaria Espiritual do Ceará".
A Instalação da Padaria Espiritual, entretanto, se deu no número 105 da Rua Formosa (atual Barão do Rio Branco) e não no Café Java, como muitos podem pensar. Antônio Sales escreveu o Programa de Instalação, que acabou sendo transcrito em um jornal do Rio de Janeiro, o que deu grande status ao movimento. Seu lema era "alimentar com pão o espírito dos sócios e da população em geral".
Os títulos nessa academia seguiam o padrão usado nas padarias reais:
Forno: a sede do movimento
Padeiro-mor: o presidente
Forneiros: os secretários
Gaveta: tesoureiro
Investigador das cousas e das gentes: bibliotecário
Amassadores: sócios
Amassado a cada domingo, um jornalzinho de oito páginas intitulado O Pão circulou seus 36 irreverentes números até se finar, segundo dizia seu padeiro-mor, Antônio Sales, de "caquexia pecuniária". Na foto abaixo temos o encarte com a primeira edição do jornal criado pela Padaria Espiritual, em 1892. O Programa de Instalação não permitia que se usassem, em quaisquer publicações, palavras estrangeiras ou animais que não os nativos do Brasil, numa postura radicalmente nacionalista. A importância do movimento se deu pelo fato dele haver proporcionado a consolidação do Realismo e o nascimento do Simbolismo no Ceará.
No período de funcionamento do Forno, juntamente com o periódico O Pão, foram lançadas importantes publicações e alguns livros de grande importância para a literatura brasileira como: Phatos (1893) de Lopes Filho Marinhas (1897) de Antônio de Castro Flocos (1894) de Sabino Batista Contos do Ceará (1894) de Eduardo Sabóia Cromos (1895) de X. de Castro Trovas do Norte (1895) de Antônio Sales Os Brilhantes (1895) de Rodolfo Teófilo Dolentes (1897) de Lívia Barreto Maria Rita (1897) de Rodolfo Teófilo Perfis Sertanejos (1897) de José Carvalho Em dezembro de 1898, depois de 6 anos de funcionamento, a Padaria "fecha". Nessa atmosfera fervilhante e paralelamente ao movimento da Padaria Espiritual, acontece a fundação da Academia Cearense de Letras, em 15 de agosto de 1896, quando, mais uma vez, os intelectuais locais valorizam-se com seu movimento de vanguarda, já que esta foi a primeira academia de letras do país, surgindo mesmo antes da própria Academia Brasileira de Letras. Em 1992, em comemoração ao centenário da Padaria Espiritual, outro grupo de escritores, artistas plásticos, músicos e amantes da arte em geral pôs a mão na massa e O Pão tornou a circular, como o seu ilustre antepassado, distribuindo os biscoitos finos da imaginação. (*Do site Acervo Ceará Cultural)
imagem 1 = Antiga fotografia preservada no Museu do Ceará
registra um encontro da Padaria Espiritual
Foto: SILVANA TARELHO
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